segunda-feira, dezembro 04, 2006

Bentanias

Contrariando os que vaticinavam uma visita atribulada e arriscada à Turquia, o Papa Bento XVI saiu incólume do país de Atatürk e até mais refrigerado de ecumenismo e apaziguador no discurso. Isso talvez seja resultado, primeiro, da omnipotente autoridade divina que, com a ajuda de omnipresentes guarda-costas e segurança, lhe garantiu a inevitável protecção; e, segundo, de uma súbita iluminação celeste que lhe terá inspirado a inflexão de ideias em relação à infeliz prelecção de Ratisbona, há cerca de quatro meses, em que blasfemou contra Maomé.
Deus parece adormecer de quando em vez, mas acaba sempre por escrever direito através das sinuosas linhas com que nos confunde com os seus inacessíveis e prodigiosos santos desígnios. E não se diga que o bispo alemão de Roma é perito em dar uma no cravo e outra na ferradura, pois, como Santidade que é, está sob a graça do divino sopro que lhe confere infalibilidade (é o único humano a ter esse privilégio), e Deus não se engana, ou pelo menos assim se deve pensar... Tem mesmo graça!
Todavia, e abstraindo-nos de teológicos dogmatismos, alguém deve andar chocado e discordante com o papal desnorte retórico; alguém que, há dois anos, defendeu a matriz cristã da cultura europeia como premissa para implicitamente sustentar a rejeição da Turquia como putativo membro da União Europeia; alguém que lamentou os encontros de ecuménica oração protagonizados por João Paulo II; alguém que, como Professor de Teologia nos idos de 60, se habilitou a ser excomungado por ter arejadas opiniões pouco católicas. Esse alguém é... o cardeal Ratzinger!
Estamos perante um caso de dupla personalidade e de hábil arte camaleónica. Ou será doença bipolar?

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1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

No ... He only had "stuffed Turkey" for dinner. That's why he's "full of it".

Abraço
MF

3:11 da tarde  

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