segunda-feira, março 05, 2007

Democracia de ananás e abacaxi

Dizem-se paladinos da defesa e difusão de valores civilizacionais supremos e elementares, como a liberdade e a democracia. Porém, uma análise mais atenta da realidade política interna revela, afinal, que os EUA estão longe de ser um paradigma exemplar no exercício das liberdades (veja-se o «patriot act») e mesmo da democracia...
Com efeito, a eleição do presidente dos EUA - actualmente, a pessoa mais poderosa do mundo - reveste-se de contornos obscuros e preocupantes, que põem em causa a transparência, credibilidade e idoneidade de processos autenticamente democráticos. As pessoas que se candidatam ou são milionárias ou estão inteiramente dependentes da recolha de fundos e, logo, de uma poderosa rede de interesses privados. Nos "states" não há financiamento público das campanhas eleitorais, o que faz dos putativos eleitos genuínos títeres ao serviço dos gigantes empresariais que os patrocinaram na corrida ao lugar, pervertendo os mais básicos ideais que constituem a essência do regime democrático.
Já não bastava o sistema norte-americano impedir a vitória do candidato mais votado (recorde-se a primeira eleição de Bush, frente a Gore), em virtude de um errado sistema de círculos uninominais, e há ainda que acrescentar a influência corrosiva do dinheiro. Infelizmente, é esta a potência que impõe a sua hegemonia e, mais uma vez, os candidatos que se perfilam ao lugar do inominável Bush, democratas e republicanos, são tão diferentes entre si como um ananás e um abacaxi: a mudança far-se-á sempre na continuidade, em versão mais ligeira (democratas) ou agreste (republicanos), no quadro de uma sociedade hipócrita, inculta e conservadora.
Quem quisesse mudar os EUA ou não é candidato ou acaba com um tiro (in)esperado à clã Kennedy!

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