Sócrates em tapete rolante
A meio do mandato e em mais uma recorrente sessão mediática de pura propaganda política, José Sócrates e o seu ministro da Justiça proclamaram ontem triunfalmente que, em 2006, pela primeira vez em dez anos, "o número de processos cíveis findos (492.834) é superior ao número de entrados (472.639)" e que houve um decréscimo de pendências, relativamente a 2005, de... 0,4%! O ambiente efusivo contrasta com as parcas migalhas do banquete e vale que o ridículo não mata: dois anos já no leme da governação para fazer tão pouco e sem explicar clara e inequivocamente o expediente estatístico utilizado (por exemplo, os valores apresentados incluem os dos processos que findaram há anos, mas cujos verbetes só recentemente foram preenchidos? Considerou-se a descriminalização dos cheques e a renúncia de cobrança de custas com montante inferior a 400 euros?)...
Por conseguinte, os números divulgados pelo Governo não são, numa estimativa rigorosa, séria e independente, superiores aos apresentados, donde que, em boa verdade, o que este relatório traduz é que as medidas tomadas pelo Executivo para descongestionar os tribunais são, afinal, quase ineficazes e praticamente inócuas, à imagem e semelhança do fogo fátuo de (des)medidas noutras áreas.
Cantar tão ruidosamente vitória por exíguas vitórias de Pirro, ilustra à saciedade como Sócrates corre, corre, corre e, qual tapete rolante, não sai do mesmo sítio, e com ele Portugal. Mas o importante para os portugueses parece ser suar com os passos dados e não com a distância percorrida!
Etiquetas: Política
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