sexta-feira, maio 11, 2007

Duas notas sobre um rapto

Mais uma vez somos confrontados com o desaparecimento de uma criança, provocando na opinião pública um sentimento de expectativa quanto ao desfecho do caso, sobretudo porque sabemos que nem todos os casos desta natureza acabam bem. Mas há duas notas sobre o desaparecimento, em Lagos, de Madeleine McCann que me merecem um particular comentário.
1. É evidente que os pais desta criança inglesa são responsáveis e culpados por negligência. Mas esta é a mesma negligência em que, com toda a certeza, incorreram todos os pais do mundo, só que tiveram mais sorte e foram favorecidos pelas situações e circunstâncias que tecem os acontecimentos.
Porém, e escamoteando essa contingência, e numa impertinente atitude de superioridade moral, há vozes, algumas de especialistas, que não se têm coibido de apontar publicamente o dedo acusador ao casal desafortunado, num sádico exercício que exponencia intoleravelmente a dor, o desespero e a angústia que, certamente, os pais de Maddie devem estar a sentir. Para carrasco já basta(m) o(s) eventual(is) raptor(es)!
2. Outra nota importante prende-se com as críticas que se ouvem acerca da desproporção de recursos humanos e materiais que estão a ser empregues na operação de localização da criança inglesa, em comparação com casos do passado em que a indigência de meios foi escandalosamente menor, como o do bebé português raptado no hospital de Penafiel, ou o do Rui Pedro que, então com 11 anos, desapareceu em Lousada, em 1998, e ainda se desconhece o seu paradeiro.
Claro que tais diferenças de tratamento são chocantes e não podem deixar-nos indiferentes. E isso até pode estar relacionado com uma lógica de subordinação das forças policiais e da autoridade política à inegável importância económica da nacionalidade da pessoa desaparecida, bem como ao impacto mediático causado. Todavia, há que elevar a fasquia a partir de agora, exigindo-se, para casos futuros, pelo menos a mesma prontidão operacional e disponibilização de meios, terminando com as ineficiências e ineficácias do passado. E isso independentemente da nacionalidade e estatuto das pessoas desaparecidas, sejam elas inglesas, portuguesas, timorenses ou etíopes, filhas de turistas ou de imigrantes ilegais...
O chauvinismo e arrogância ingleses podem ser motivo de lusa irritação, mas mais importante é aprender com os erros e não nivelar por baixo, até porque, neste caso, os prejudicados não falam português!

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2 Comments:

Blogger morffina said...

Britânicos civilizados, que não aqueles hooligans de "jornais" de manchetes vermelhas, têm elogiado os esforços da PJ, incluindo especialistas policiais que têm contactado com os detectives portugueses. Devo dizer mea culpa no que se refere a algumas críticas em relação a algumas atitudes da GNR nas imediações da fronteira, mas parece que há optimismo em relação ao trabalho da PJ. Vamos ver.

Abraço
MF

7:38 da tarde  
Blogger O Micróbio II said...

ALM, se me deres licença vou publicar, no Micróbio, o último parágrafo deste teus post. E mesmo que não dês, já lá está! :-)

1:01 da tarde  

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