sexta-feira, maio 18, 2007

Roseta e a falsa independência

Num país que respire saudavelmente a democracia, a existência de candidaturas independentes é um dado adquirido na realização de actos eleitorais (sobretudo nos de âmbito regional, local ou autárquico), cuja disputa não deve ser um exclusivo dos partidos políticos. Assim se avalia também a qualidade, vitalidade e vigor da experiência democrática, diagnosticando acerca da capacidade de iniciativa e facilidade de intervenção dos ditos "independentes".
Ora, a eventual candidatura de Helena Roseta à autarquia lisboeta tem sido rotulada de "independente", o que não deixa de merecer um veemente reparo. Com efeito, e apesar de eu defender as virtualidades e virtudes das candidaturas verdadeiramente independentes, que merecem o meu aplauso cívico, considero contudo falacioso e politicamente desonesto, próprio de uma retórica enviesada, afirmar que Helena Roseta (como, em anteriores actos eleitorais, Manuel Alegre, Valentim Loureiro, Isaltino Morais, Ferreira Torres ou Fátima Felgueiras) é uma candidata independente. Ao fazê-lo, deturpa-se o campo semântico de «independência», designando de "independentes" os ex-filiados em partidos que depois confrontam em eleições com o capital de notoriedade e legitimidade pública de uma "independência" afinal extraída reactivamente dos partidos com que colaboraram longamente, como se nunca tivessem estado comprometidos com a cumplicidade de directórios, aparelhos ou decisões resultantes de práticas partidárias. Mormente Helena Roseta, que deambulou durante anos e foi deputada pelo PS e PSD, pelo que está longe de estar bacteriologicamente em estado puro!
Tal como Alegre e outros, a arquitecta quer ser agora contra o sistema que defendeu ao longo de décadas e a sua recente desfiliação do PS, pelo timing em que ocorreu, deve-se seguramente a demagógica e oportunista conveniência eleitoral e a puro revanchismo. Pobre esquerda se pretender uma candidatura comum em torno de Roseta... É caso para dizer que, em Portugal, a autêntica independência ainda não é politicamente compaginável com o genuíno pluralismo!

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2 Comments:

Blogger morffina said...

Desagregação fraticida, ambiciosa e desavergonhada.

Abraço
MF

7:33 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Pois, a pensar por esse ponto de vista, ninguém pode mudar de opinião ...

8:25 da tarde  

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