sexta-feira, setembro 21, 2007

Desemprego milionário

E eis que, sem ser propriamente uma surpresa, José Mourinho deixou o Chelsea e, contra toda a lógica laboral, ter sido demitido do clube de Abramovich e ficar desempregado equivaleu a ficar milionário num ápice. Parece que, de momento, a profissão mais lucrativa é ser treinador em Stamford Bridge! E raro é ver, em circunstâncias afins de «chicotada psicológica», quedarem-se jogadores e adeptos em desolador pranto e inconformados com uma decisão de despedimento do seu treinador, afinal o habitual bode expiatório de erros alheios.
Mourinho teve uma ascensão meteórica numa carreira onde os melhores levam mais anos a conseguir a fama, a reputação e o prestígio, e em muitos casos à custa de uma anterior carreira como jogadores bem sucedidos, o que não é o caso do irreverente setubalense. E, com a sua saída do Chelsea, perspectiva-se um manancial de especulações que vai certamente fazer correr rios de tinta e relegar o caso Maddie para um inferior plano noticioso.
Com efeito, as coincidências no futebol são espantosas (veja-se Ronaldo a ser o carrasco da equipa a que deve a sua excelente formação): assistimos a um contexto em que a selecção das quinas começa a ver em perigo o apuramento para o Euro 2008 e Scolari vai ser suspenso pela UEFA em todos os jogos que faltam disputar, após o irreflectido murro ao vilão sérvio - o que permite à FPF despedi-lo com justa causa e, assim, evitar outra choruda indemnização (que a Federação não tem o pecúlio de Abramovich!) -, quando ocorre a súbita disponibilidade de Mourinho que vem baralhar as cartas do jogo, sobretudo sabendo-se que gostaria de treinar a selecção nacional e que, por sua vez, Scolari faz tempo que está na agenda de contratação da federação inglesa. Além disso, a qualidade do special one não o fará estar inactivo por muito tempo, pelo que não admira que haja quem vai querer apressar "chicotadas" para aproveitar a inesperada ocasião de empregar Mourinho.
Também Fabio Capello conquistou o título de campeão com o Real Madrid e foi despedido, em nome de imperativos empresariais que começam a sobrepor-se aos critérios estritamente desportivos: para os clubes de topo investirem somas avultadas em aquisição de jogadores e pagarem salários milionários, exigem aos técnicos o espectáculo que faça encher bancadas e vender camisolas. Não basta vencer nem ser apenas eficiente; é preciso igualmente ser bonito e ostentar um look sedutor que atraia as massas de adeptos sedentos de idolatria. Talvez por isso Mourinho tenha dito que, depois do Chelsea, iria para Itália...
Quanto ao resto, não consigo lastimar um tão generoso despedimento!