domingo, setembro 16, 2007

Em ninho de cucos / 7

Sobretudo desde que se tornou uma holding multinacional no rentabilíssimo negócio das almas, inaugurada no século I pelo mentecapto Saulo de Tarso, oficializada no século IV pelo facínora imperador romano Constantino, robustecida em 1231 por Gregório IX (o ignóbil papa fundador da Inquisição) e expandindo-se ainda mais a partir do século XV a reboque dos luso-hispânicos Descobrimentos, não mais a sanidade mental da matriz cultural ocidental deixou de ser importunada pelas católicas alimárias estupidificadas pela absurda e desumana cegueira do caprichoso dogma. O Renascimento e o Iluminismo não foram suficientes para restituir o Homem ao Homem, ou não assistíssemos ainda hoje - mais de 2000 anos à espera do regresso do crucificado cavalgando nas nuvens ladeado por anjos, querubins e serafins - aos dislates de teológica candura do senhor Januário e seus pares na anacrónica e vil hierarquia com sede no Vaticano.
Quando os antecessores deste bispo das Forças Armadas (como é possível conceber semelhante cargo?!) tiveram o autoritário privilégio de viver nos gloriosos tempos inquisicionais, instigavam os seus incultos rebanhos a renderem-se às santificadas virtudes da bufaria e acusarem todos os que exibissem heréticos comportamentos, contrários às leis do Deus que erigiram: havia que denunciar e condenar ao público churrasco quem fizesse o sinal da cruz com três dedos e não com toda a mão, ou da direita para a esquerda; quem defendesse que a matéria é composta de átomos (incompatível com o dogma da eucaristia, sendo a hóstia o corpo do cultuado senhor mas imaterial); quem sugerisse a insolente possibilidade de haver vida extra-terrestre (a Terra é o inexorável centro do Universo); quem enterrasse os seus mortos em campas voltadas para o mourisco oriente; quem se votasse à judaica inércia do descanso ao sábado; quem lesse Voltaire e outras demoníacas obras que comportassem o perigo da desviante ilustração (até um «índex» foi religiosamente criado); quem aventasse a ideia de que Maria, sendo a paridora do crucificado, não o era todavia de Deus (pois Jesus é Deus, quem diria?!); quem se recusasse a degustar a deleitosa carne de porco; quem, do varonil género, escondesse o genital membro ao urinar (não por vergonha do volume, mas por eventual receio de lhe ser desvendado o pénis circuncidado); quem recusasse um convite para cear numa noite de lua cheia (própria de lobisomens e satânicas criaturas)...
No século XXI, com outra percepção do ridículo, e ao contrário da doutrina inventada, as católicas censuras modernizaram-se e têm tecnológica repercussão: condena-se o preservativo, o aborto (curioso em quem tanta gente assassinou!), a clonagem terapêutica e a inseminação artificial. Vale às hodiernas gentes que os papa-hóstias não têm hoje o poder de ostentarem fachos ou archotes, senão o caso Maddie já tinha sido resolvido numa purificadora fogueira. Como seria hoje o mundo se as férteis parideiras destes membros do clero fossem estéreis e vigorasse ainda a inquisitorial época? Como seria o mundo sem esta burocrática igreja que administra a fé com habilidades de contabilista?

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8 Comments:

Blogger Liliana Matos said...

Olá professor!
Não sei como agradecer sempre as suas simpáticas e sinceras palavras. OBRIGADA!
Não sei se tenho razão, mas acho que são as pessoas que constroem os lugares.E a ESEN é construída por pessoas e continuará a ser construída por muitas outras que virão. Quando eu a frequentava o professor, entre outros, também foi um desses "construtores".Obrigada por isso.

Até sempre!

Liliana Matos

11:13 da tarde  
Blogger Ai meu Deus said...

Ó ALM,

agora foi/foste demais. Desmasiadamente desmasiado. Até na linguagem. Os termos com que tu sintetizas a nobre história dessa instituiçãao divina que se chama Igreja... ó homem, desta vez não te safas mesmo da excomunhão.

Vou rezar por ti, homem! Que Deus te valha!

11:53 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

1. Olá Liliana! Obrigado pelas simpáticas palavras. Também eu me senti honrado na ESEN em ter alunas como você! Bjis
2. Oi ARG! Por mais duras que sejam as palavras contra a igreja italiana, elas jamais poderão ombrear com a vileza dos males que historicamente cometeu e subrepticiamente ainda comete... Abraço,
ALM

12:25 da manhã  
Blogger joshua said...

Entre isso e uma simbólica mijadela despreziva contra a Assembleia da República, contra um cemitério qualquer, contra uma igreja qualquer, contra alguém-padreco por quem se passa odiosamente, contra um livro de História como quem, mijando, mijando muito sobre, a reescreve...

Não há, creio, no mundo desprezivo mijo que chegue. Nem tens bexiga para isso.

Talvez escrever. O reverso de abominar tanto talvez seja amar demasiado.

2:39 da tarde  
Blogger morffina said...

Um mundo sem igrejas e clero e religiões??? Esse mundo seria "o Paraíso"!!!

Abraço
MF

7:26 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Encontro aqui a militancia dos crentes. O teu demónio é simultaneamente o teu Salvador.

Como disse aqui alguém, o resto não passa de simbólicas mijadelas.

10:33 da tarde  
Blogger O Micróbio II said...

Bem me parecia que isto cada vez mais se assemelhava a um mictório... agora já se percebe a origem dos odores aqui pelo Sem Quorum...

11:49 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Caro Micróbio: na verdade, falar da Igreja Católica só pode gerar cheiros nauseabundos; se é a urina ou não, não tenho o faro católico tão apurado. Mas desconfio que, devoto da cruz e do Papa, tu te sintas melhor com o cheiro a carne humana incinerada...
Ninguém te obriga a vires ao Sem Quórum, se queres zelar pela tua espiritual saúde.
Que Deus te abençoe,
ALM

8:24 da tarde  

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