Money talks
A crise no Banco da Opus Dei - o BCP, de Jardim Gonçalves - era afinal um modo de vida impunemente instalado e avesso a práticas de transparência nas contas e de respeito pelo rigor e pelos direitos dos seus clientes e accionistas. Talvez tenha sido por se pautar por obscuros critérios de gestão, e por se envolver em clandestinas negociatas de legalidade duvidosa, que tão ilustre instituição tenha atingido o estatuto de maior banco privado português, fazendo jus ao próprio mote publicitário que diz: "a vida inspira-nos"!
Benditas sejam as denúncias insistentes de Berardo e a sucessão mal congeminada pelo devoto e beato fundador, as quais funcionaram como o algodão que fez emergir (toda?) a porcaria acumulada e que estava dissimulada e encoberta por uma imagem de credibilidade e exigência que não passava de encenação.
Perante tamanhas fraudes económicas, a CMVM e o BP só se mexeram após a persistência noticiosa dos média, provando quão incompetentes e comprometidos parecem ser no exercício efectivo e independente das suas funções de supervisão e de regulação. Só a promíscua cumplicidade entre o poder político e alguns agentes económicos pode explicar o injustificável silêncio e a vergonhosa inércia daqueles organismos. Às vezes, dá ideia que Constâncio é mais um secretário de Estado das Finanças do que um governador do BP...
E, para colorir ainda mais este cenário de moderno capitalismo e decadência nacional, transfere-se a administração da CGD para o BCP, como se o conhecimento de matérias de interesse e de investimento públicos e estratégias empresariais não estivessem em causa. Como pode ainda haver capitalistas e neoliberais, face a tão condenáveis episódios, que criticam a importância do papel do Estado na sociedade e na economia e apregoam cinicamente as virtudes da livre iniciativa individual?
O capitalismo é, de si, trágico, mas o capitalismo português consegue ser também ridículo nesta diária ressurreição do «salazarismo de mercado»: pelos vistos, só tem esperança em Portugal quem fizer parte de uma catolicamente abençoada elite de detentores de cartão rosa e laranja. Neste país com tanto de terceiro-mundismo, cada vez mais parece estarmos num 24 de Abril!
Etiquetas: Sociedade
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