Memórias da "silly season"
Há já tanto tempo sem vir aqui editar as minhas verrinosas reflexões sobre os dias que passam e que envolvem as quotidianas circunstâncias, que ora indignam ou confrangem, ora amenizam ou satisfazem... Terei ainda leitores para isto?
Porém, se repararmos bem, a marca da obsolescência não macula o lapso de silêncio que as férias suscitaram e a necessidade de descanso impôs, pois sob a espuma dos dias há um lastro de invariável imutabilidade que nunca desactualiza e que estrutura o curso dos acontecimentos: as matas e florestas que se convertem em pasto que alimenta a voragem das chamas, que impiedosamente lavram e consomem a pureza verde da paisagem e acinzentam a criminosa negligência ecológica nacional, acolitadas quer pela ineficácia de corporações de bombeiros mal preparadas e equipadas, quer por todos os enganosos planos de prevenção dos iluminados de dolo e idiotice a que chamam governantes (se vergonha houvesse, os Costas, os Simões e afins ter-se-iam ido embora para onde mais falta fizessem); os conflitos no Médio Oriente, com a incontornável troca de tiros, bombas, insultos e ameaças entre judeus e maometanos e com o velado beneplácito e cínico lamento de cristãos, com mais uma força da ONU plantada no mundo para disfarçar a indisfarçável farsa da apocalíptica diplomacia internacional; os assomos de perigo da Al-Qaeda e quejandas organizações tão terroristas como alguns estados, que mutuamente se alimentam no ódio visceral que esconde intentos outros (poder, território, influência política, dinheiro, petróleo, gás natural, água, testes de armamento, etc.), divulgando mesmo eficiência das suas polícias no desmantelamento de ataques dos aspirantes a bin Laden, quando, se calhar, a veracidade disso equivale à alegada presença de armas nucleares no Iraque de Hussein ou ao abate de um transeunte brasileiro no metro de Londres, para se mostrar serviço e colher os louros de uma meritória e vitoriosa identificação do terrorista procurado; os inconcebíveis foguetórios que adornam as parolas festas católicas, prenhes de barulho, falta de higiene, abundantes bebedeiras e música pimba em altos brados, tudo com a benção de pagãs "nossas senhoras" e "santos padroeiros" das mais estranhas coisas que a fértil imaginação dos pobres de espírito pode inventar e culturalmente instituir; as peregrinações alternativas que se fazem às praias, essas porções de areia congestionadas de pés e troncos estirados em solar defumação e rácica trégua (quanto mais preto mais bonito!), descanso apaziguador das intermináveis filas de carros e busca de estacionamento junto ao areal; os incontáveis animais domésticos que se encontram nas estradas, abandonados e mortos por atropelamento, cadáveres inocentes da insensível crueldade e maldade de indivíduos cujo comportamento devia ser punido com castração e vitalícia prisão (porque ser ela "perpétua" não o permite a humana mortalidade!); os programas de televisão a que chamam de "entretenimento" e que constituem um insulto à inteligência e dignidade cívica até dos pacientes do Magalhães Lemos, do Júlio de Matos, dos Covões, de Abraveses, etc.; as inevitáveis irregularidades que todos os anos se descobrem nos concursos de professores e que põem a nú a impune incompetência das sucessivas equipas ministeriais que contaminam a Educação e destroem irremediavelmente a formação dos cidadãos de amanhã e, logo, do país; o caudal de casos que inunda ininterruptamente a credibilidade do futebol e que comprova que o conluio dos dirigentes de clubes com árbitros é tão importante na obtenção do sucesso "desportivo" como treinadores e jogadores...
Todos os anos é o mesmo, num mimetismo das cícilicas sucessões naturais. Já agora, e por antecipação, em Agosto de 2007 os telejornais e os pasquins farão capas e manchetes destes conteúdos imperturbáveis de sazonal aparição. Precisa-se de um novo país, até de um novo planeta, e talvez daí o envio de sondas aos astros vizinhos! Mas isso não pode ser obra de gente velha...
Etiquetas: Sociedade
2 Comments:
Já parece o "retorno eterno".
Esperemos que este ciclo se quebre (só com gente nova).
Agora posso mesmo dizer, e desta vez sem lapsos:
Welcome back buddy!
Abraço
MF
E onde te meteste para fugir a tudo isso? :-)
Enviar um comentário
<< Home