quarta-feira, outubro 04, 2006

Um aniversário canino e outro republicano

Hoje é Dia do Animal, o que significa que há razões preocupantes que justificam um tal destaque, concomitantes com a cruel superioridade do Homem face ao planeta que julga ser seu e o exclusivo detentor de direitos de propriedade nele.
Amanhã, o Óscar, cão de família, completa 11 anos de idade, não disfarçando os sinais de envelhecimento próprios do Outono da vida em que já se encontra. Modéstia à parte, o Óscar até se pode queixar do reumatismo que o molesta e diminui fisicamente (já não se ergue sobre as patas traseiras a pedir colo, não salta do sofá nem para ele sobe, nem aguenta já passeios de longas caminhadas), mas não de ter uma "vida de cão", beneficiário que sempre foi de afecto e carinho, conforto doméstico e comida a horas cuidadosamente confeccionada. Na sua pequena boca, apenas resta um recôndito molar, numa odontológica ausência que lhe faz pender a língua para fora do focinho, no lado esquerdo (tendência ideológica?). A erosão dos anos só não lhe dá rugas nem lhe retira o apetite.
É um cão pequeno, de raça bichon maltês, um pouco maior que os caniches e com pêlo alvo anelado que, quando comprido, lhe esconde os olhos, as comissuras da boca e as patas, parecendo um peluche animado. Carácter nervoso e desconfiado, agressivo por vezes, nem por isso deixa de ter índole amorável e terna, meigo e exemplar na arte de bem receber as pessoas em casa. Em toda a vida, não teve ligações amorosas, pelo menos conhecidas, o que não fere a sua dignidade de macho: o mundo já está superpovoado e as poucas cadelas com que se cruzou nas deambulações de rua - e em que a trela condiciona a sua súbita e intempestiva mobilidade - são mais altas do que ele e, logo, não chega onde devia; nem sabe sequer o procedimento, na sua ingenuidade de cão virgem, pendurando-se indevidamente na boca dos caninos transeuntes com que contacta, adepto talvez do sexo oral.
Não tendo ainda a provecta idade de Argos, cão de Ulisses e, por via disso, o mais famoso e ilustre representante do canil literário, a conversão da idade do Óscar para um humano paralelismo etário dá-lhe à volta de 75 anos, tornando-o um ancião da família, mas menos anoso que a República em Portugal, que no mesmo dia completa 96 anos - quase centenária! O Óscar e a República orgulham-me como humano e cidadão português, numa aniversariante conjugação que me fazem ter um grande apreço pelo dia 5 de Outubro.
A ambos os meus Parabéns e votos de uma vida longa, mesmo com a privatização próxima da Segurança Social!

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1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Olá Miguel. Encontrei hoje este teu blog... e vi o Óscar! Li o que escreveste e fiquei com lágrimas nos olhos! O Óscar... Agora já são 12 anos! Inevitavelmente há coisas que nos fazem sentir que o tempo passa...

2:14 da manhã  

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