Democracia autofágica
Os regimes democráticos dão azo a opções políticas em que a defesa dos interesses público e nacional se confundem com os interesses pessoal e partidário, numa incongruente amálgama de comportamentos dissonantes que chegam a pôr em causa a credibilidade da própria democracia e a maturidade cívica dos eleitores.
Penando agora na oposição, o PSD tem agitado as águas em sentidos contrários: enquanto a Câmara de Lisboa subsiste numa irresolúvel ingovernabilidade, com Carmona Rodrigues cada vez mais só, sem maioria e insistindo teimosamente em arrastar-se penosamente neste desastroso mandato, já Alberto João Jardim demite-se da presidência do Governo Regional da Madeira quando dispõe de uma maioria absoluta na Assembleia Regional!
No primeiro caso, não só o inábil edil não se demite quando devia, como, à excepção do Bloco de Esquerda, os partidos da oposição não pedem a sua demissão, num puro calculismo estratégico que radica na inconveniência de eleições numa conjuntura que dificilmente poderia ser mais desfavorável (uma Câmara falida e um mandato de apenas dois anos para quem ganhar eventuais eleições intercalares). Pelo contrário, as eleições antecipadas na Madeira vêm numa altura de grande contestação ao governo de Sócrates, o que vai permitir ao PSD-M capitalizar votos de descontentamento num universo de eleitores já de si hostil a alternativas partidárias. Com isso, Jardim demite-se para se recandidatar (!), ganhar nova maioria absoluta e prolongar o seu poder até, pelo menos, 2011, ao mesmo tempo que plebiscita o desagrado e a censura do povo madeirense face à nova Lei das Finanças Regionais. O paradoxal é que tal Lei não vai certamente mudar, ficando a bofetada de luva branca ao Primeiro-Ministro e ao Presidente da República como único efeito prático desta decisão de ir a votos.
Em suma, a democracia é um regime que, entre outras vicissitudes, potencia e legitima o confronto político como jogo de interesses e conveniências tantas vezes desfasados da res publica, o que não deixa de suscitar reservas e autoriza mesmo a que se pense que a democarcia é autofágica, devorando-se com as próprias regras que institui e lhe dão vida. Afinal de contas, a democracia não é um sistema bom, mas somente o menos mau dos que as sociedades humanas produziram!
Etiquetas: Política
1 Comments:
Quando é a que demo passa a ser editada para entrar para os tops of the pops?
Abraço
MF
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