Dois tristes "manéis"
I. De visita à China, o ministro da Economia, Manuel Pinho, declarou publicamente que uma das cinco vantagens competitivas para o investimento estrangeiro em Portugal é a prática de baixos salários, a que acresce a docilidade dos portugueses ("a pressão para a sua subida [dos salários] é muito menor do que nos países do alargamento"). Esta constatação, assim manifestada, teve o efeito de pôr os olhos em bico de empresários e sindicalistas - pô-los assim de acordo não é tarefa fácil! - e demais herdeiros do vimaranense conquistador, e revela um freudiano 'acto falhado' do ministro: afinal, defende ele um modelo de desenvolvimento que valoriza os baixos salários como factor de competitividade. Isto contradiz o discurso oficial do governo e os pressupostos do «choque tecnológico» e dizê-lo aos chineses é o mesmo que querer ensinar a missa ao padre...
Desconhecerá Manuel Pinho que os baixos salários em Portugal são justamente uma das razões fundamentais do nosso atraso e das escandalosas assimetrias sociais cada vez mais acentuadas? E saberá o douto ministro que uma das estratégias chinesas, quando se instalam no estrangeiro, é recrutar mão-de-obra também ela chinesa, por ser mais barata? Quererá ele vender frigoríficos a esquimós?
Os Direitos Humanos devem dizer pouco ao socrático ministro e, por outro lado, transparece a ideia de que em Portugal é que se fazem verdadeiros «negócios da China», com preços de saldo todo o ano! Tal discurso mais parece o de um político terceiro-mundista ou o de um empresário sem escrúpulos adepto de deslocalizações selvagens, e não o de um prezado responsável de um governo europeu.
II. A este propósito, afirmou o inominável Manuel Alegre, em sessão parlamentar, que: "como democrata e como socialista entendo que a economia e os negócios, seja qual for o contexto, não podem estar acima dos direitos políticos, humanos e sociais". Quando é que o vetusto deputado aguedense tomará consciência de que o seu PS já não existe e, desde as últimas presidenciais, já ninguém o leva a sério no Largo do Rato?
Em suma, cada um a seu modo, os dois «manéis» são personagens de triste comicidade que, ambos ridículos, denotam que em Portugal as coisas mudam para ficarem na mesma!
Etiquetas: Política
1 Comments:
Consta-se que se contou a seguinte anedota em Xangai:
Do you know why the Portuguese have so many "Manuels"?
No.
Because they don't know how to spell "Automatic".
Hah! Hah! Hah!
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