terça-feira, março 13, 2007

Ficção e utopia

Na generalidade dos filmes e séries televisivas, em particular as «made in USA», a preocupação de não afrontar a sensibilidade do espectador médio e assim salvaguardar as receitas - os critérios financeiros subordinam os critérios artísticos! -, produtores, argumentistas e realizadores seguem um preceito imperativamente consagrado: os maus da fita morrem no fim... Esta opção de epílogo desfavorável aos vilões satisfaz quatro objectivos fundamentais e interligados:
i) transmitir a ideia de que a morte é a saída que soluciona os problemas provocados pelo(s) maldoso(s), encerrando-os definitivamente;
ii) sugerir um sentido falacioso de justiça na qual a anulação, eliminação ou permanente ausência do infractor pressupõe a erradicação da prevaricação;
iii) respeitar uma inconsciente ou recalcada crença no sentimento cristão do juízo final, impondo a morte ao pecador/vilão como o desfecho incontornável e merecido para os seus pecados/vilanias (como Deus, o espectador é omnisciente, dispondo das «verdades» da trama narrativa);
iv) e satisfazer uma norma moral: o crime não compensa e, no limite, legitima e autoriza o fim da existência do prevaricador.
Ainda bem, para Bush e Blair, que estamos no domínio da estória ficcionada e não da história concreta, o que prova que a (sétima) arte não imita, necessariamente, a vida!

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