terça-feira, março 27, 2007

Sacramentos com pés de barro / 2ª Parte

Mas, em «Sacramentum caritatis», Bento 16 vai mais longe e não vê com bons olhos a comunhão de cristãos não-católicos numa missa católica. E nisso tem razão, pois quem poderia compreender o 'ecumenismo desportivo' de, por exemplo, um Cristiano Ronaldo que, sendo do Manchester United, fosse fazer uma perninha no Desportivo das Aves? Nem as namoradas do jogador madeirense veriam isso com bons olhos!
Porém, a cereja no topo do bolo desta recente exortação apostólica é a importância de os confessionários (Deus não é, afinal, omnisciente e omnipresente!) terem que estar em lugares bem visíveis, naquela que será a recomendação mais eficaz para evitar (porque eliminar parece ser impossível!) subtis beliscões impróprios, pedófilas altercações ou outras investidas clericais menos católicas, fazendo as ovelhas do rebanho sentirem-se mais seguras. Aqui, o Papa faz mais pelo seu povo que a Casa Pia pelos seus alunos...
E, por fim, um comentário à insistência papal, certamente sob «inspiração divina» (o efeito do álcool não chegaria a tanto!), sobre as questões da arte e da beleza: arquitectura, pintura, música e escultura devem passar a ser preocupações básicas do prelado. Presumo que temos aqui uma óptima maneira de consolar as almas, saciar a fome aos indigentes e proteger as demais carências dos desfavorecidos - tudo se resolve com arte e muita beleza!


Concluindo esta dissertação, devo acrescentar que, sendo a papal igreja o Vaticano, os concílios, os sínodos, os conclaves, as conferências episcopais e a Cúria, estranho a existência de movimentos de leigos, como o pomposamente designado «Nós Somos Igreja»: é como se a estrutura hierárquica, segregacionista e elitista, não fosse o princípio que impulsiona o funcionamento desse credo cristão maioritário. Ou seja, é como se se esquecesse que a relação entre fiéis e classe sacerdotal se estabelece segundo processos coercivos de conversão religiosa e moral, e não na base de uma participação efectiva, livre e democrática - basta ver como decorre uma eucaristia católica!
Compreendo que aqueles que não se revêem na Igreja, sendo católicos, pretendam criar movimentos de influência para a modificar; contudo, omite-se o essencial: as decisões relevantes sobre os conteúdos doutrinário e ritual decorrem em lugares de onde estão afastados os leigos, os quais não têm lugar nem dominam os mecanismos obscuros de legitimação decisória e são tantas vezes desautorizados nas práticas correntes.
Mas quem ousa, sem ser excomungado, afrontar os porta-vozes de Deus e os pés de barro em que os seus sacramentos se movem?

Etiquetas:

2 Comments:

Blogger Ai meu Deus said...

Ai Jesus! Que pecados tamanhos, só de te ler!...

Abraço.

12:29 da manhã  
Blogger morffina said...

Porta vozes? Imaginem a voz directa!

ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ!!!!!!!!

4:59 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home