quinta-feira, abril 26, 2007

O 26 como o 24 de Abril

O Eurostat divulgou recentemente dados oficiais que revelam que, entre 1995 e 2005, as assimetrias sociais diminuiram no conjunto de países da União Europeia (de 5,1 para 4,8), ainda que tenuemente; enquanto em Portugal aumentaram de 7,4 para 8,2. Aliás, o nosso país é o campeão das desigualdades.
Como se isso não bastasse, o governo dito "socialista" do presumível engenheiro Sr. José de Sousa dá continuidade às políticas mais activas de liberalismo económico, cujas consequências nefastas nem os milionários fundos europeus invertem ou disfarçam: é a promoção dos baixos salários, é a precariedade laboral, são os despedimentos, é a inércia face à morosidade e eficácia da justiça, é a destruição da qualidade do ensino, é o encerramento de serviços públicos fundamentais (centros de saúde, valências hospitalares, escolas, esquadras de polícia), num rol tristemente extenso de medidas socialmente penalizadoras de tantos direitos adquiridos, qual barco com rombos que tornam inevitável o naufrágio. E dizem-se o pseudoengenheiro e o catedrático presidente consternados com o baixo nível de qualificação dos portugueses...
No meio deste inqualificável ataque de direitos básicos fundamentais, queixa-se Cavaco Silva do défice de participação política dos mais jovens, apelando para que não se resignem. O presidencial senhor critica, inclusivé, a repetição ritualista com que a classe política celebra o Dia da Liberdade, sem propor alternativas e quase se excluindo de tal grupo. Coragem para tamanha desfaçatez é coisa que não lhe falta!
Paradoxalmente, não é tanto o ressurgimento de pontuais saudosismos nacionalistas que fazem perigar a democracia portuguesa, mas sim os políticos (governantes, autarcas e demais titulares de cargos públicos) que, em democracia, os portugueses têm eleito, responsáveis directos que são por fenómenos de corrupção, caciquismo, nepotismo, impunidade político-jurídica e destruição do sector público. Cavaco afirmou ontem, no seu discurso na Assembleia da República, que "ninguém é dono do 25 de Abril nem proprietário da democracia"; só lhe faltou acrescentar: "e muito menos os políticos"! Será isto a verdadeira «cooperação estratégica»?
Claro que, ao elegê-los, o povo distraído deste país teima em masoquistamente persistir no erro, provando que a democracia não deixa de ter vicissitudes várias, como o facto de tantas vezes a maioria não ter razão. Para quê comemorar o 25 de Abril, se o 26 é igual ao 24?

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1 Comments:

Blogger morffina said...

Ó desculpa lá! O seis é mais redondinho. O quatro é o número de pernas que tinha A "malvada, abençoada" CADEIRA.

6:45 da tarde  

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