Fronteira entre verdade e difamação
Este é um caso curioso que nos faz questionar se existe ou não, em circunstâncias diversas, uma fronteira objectiva entre a verdade de uma asserção e o seu conteúdo meramente jocoso ou difamatório. Resumindo:
Chama-se Fernando Charrua, é professor e já foi deputado no sector alaranjado do Parlamento; estava destacado na Direcção Regional de Educação do Norte, mas foi agora devolvido à procedência, ou seja, recambiado para a escola a cujo quadro pertence e obrigado a vigiar e zelar pelo bom estado de conservação do acervo de livros da biblioteca. A causa para esta forçada missão de bibliotecário foi simplesmente ter aquele professor a ousadia de ter pensado em voz alta o que muitos milhões de portugueses ardorosamente pensam em imperscrutável murmúrio. O conteúdo do pensamento, embora prosaico, tem a particularidade de visar dois alvos: não só um principal (o primeiro-ministro), mas outro colateral (a mãe do dito).
Que Sócrates seja "filho da puta" parece-me de mais difícil averiguação do que, por exemplo, a idoneidade ou autenticidade dos seus conhecimentos de engenharia civil, pois desconfio que o primeiro-ministro está tão habilitado para exercer engenharia como eu para gerir uma adega vitivinícola... Quanto à reputação da sua progenitora, não sei se é a contida no conceito aduzido pelo ex-deputado, nem se este chegou mesmo a proferir tal epíteto, o que, a ter acontecido, revelou imprudência da sua parte: é um perigo emitir confidências perante a directora da DREN, que demonstrou ser uma afincada zeladora da imagem do (pseudo)engenheiro e leal ao cartão rosa que guarda na carteira. Aliás, a delação e o culto da personalidade às vezes são atitudes correlativas, mesmo se estão revestidas com o verniz da democracia.
Suspeito até que este incidente foi congeminado nos corredores de S. Bento (não o 16 do Vaticano!) com o firme e astuto propósito de vitimizar Sócrates - e a mãe! -, conseguindo assim, simultaneamente, elevar os seus índices de popularidade e desviar o mais possível a atenção acerca da miserável situação económica do país. E da presumível frase atribuída ao professor Charrua, mais do que ser o primeiro-ministro um filho da puta, a verdade inequívoca é governar Sócrates uma república das bananas!
Etiquetas: Sociedade
1 Comments:
Um bocadinho de meu post sobre este assunto:
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Coitado do nosso Charrua
Tramado por uma margarida de rua
De consistência cerebral crua
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Abraço
MF
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