Viver alegre ou morrer com saúde?
Vivemos num tempo de inaudita abundância que, contraditoriamente, se confronta com permanentes avisos de contraproducente consumo: o pão possui sal e hidratos de carbono em excesso; os legumes têm resíduos agrotóxicos; o leite tem caseína e, segundo alguns, não devia fazer parte da dieta (excepto na amamentação, pois é coisa pueril e de bezerros); a carne é louca ou tem gripe; o peixe está contaminado de mercúrio; o churrasco possui benzopirenos; os ovos são fonte de colestrol; os enchidos são ricos em gorduras saturadas; os bolos não deixam de ter açúcar e os edulcorantes são ainda mais nocivos; a cafeína vicia; as fibras insuflam o intestino; os conservantes provocam alergias; os aditivos são cancerígenos e os intensificadores de sabor provocam arritmia cardíaca e mal-estar; os alimentos geneticamente modificados estão sob suspeita...
Em suma, o desenvolvimento coloca-nos, mesmo aos que comem para viver, perante o incontornável dilema: ou se vive alegre na prazenteira satisfação da gula, correndo o risco de se morrer vitimado por uma qualquer doença; ou, para evitar tão tenebroso cardápio, se vive triste na insatisfatória subnutrição do comedimento alimentar, morrendo-se com saúde!
Etiquetas: Sociedade
2 Comments:
Estou a imaginar as fibras a insuflarem o intestino. Que imagem tão gira!
O que vale é que só comemos coisas mortas ... quer dizer, não figurativamente, pelo menos.
Abraço
MF
só comemos coisas mortas?! algumas vivas (e as melhores), também.
Quanto ao resto, entre o come-dimento sensaborão e a gula des-cu-medida há-de haver uma terceira via. Como em tudo. Ou como na política (designadamente. Mesmo que às vezes a terceira via seja descafeinada).
Abraço.
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