Anomia lusitana
Sucessivas sondagens vindas a lume, e que periodicamente actualizam o sentido de voto dos eleitores lusos, parecem ter sido encomendadas pelo PS, dado apresentarem resultados invariavelmente favoráveis ao partido do Largo do Rato - a propaganda do Governo tem, portanto, surtido efeito. E isso apesar das circunstâncias adversas, designadamente os últimos números do desemprego que o INE divulgou e que dão conta de um aumento que agora se fixa nos 8,4%; ou seja, Portugal tem seguramente meio milhão de cidadãos em idade activa que estão desocupados, contrariando as tão ambiciosas como enganosas promessas de Sócrates (quem não se lembra dos 150 mil empregos?) - e já está o «engenheiro» a meio do mandato!
De facto, a incompetência de mais este (des)governo está, infelizmente, bem patente no fracasso de tantas medidas adoptadas e que o executivo reputa de "política reformista". Claro que o PSD não faria diferente e daria igual curso à exangue "estratégia de contenção financeira" que restringe benefícios sociais e fiscais e que tem diminuído o poder de compra e, consequentemente, envolvido os cidadãos no baraço de impagáveis empréstimos. Somos os primeiros no volume de impostos e dos últimos na qualidade de vida, na educação, na saúde ou na justiça...
O paradoxo do actual quadro económico parece ser o facto de à prosperidade da macroeconomia corresponder o definhamento da microeconomia, num balanço sempre desfavorável aos mesmos do costume, a ponto de a classe média se estar a dissolver em sentido descendente, cada vez mais empobrecida. Mas a generalidade dos portugueses, quais masoquistas impenitentes e relapsos na acrítica cidadania, persiste numa cómoda anomia, incapazes de reconhecer e interpretar os sinais e os números, como se nada se passasse e fosse mais importante uma romaria a Fátima, as contingências e deambulações sofridas por um casal britânico com filha desaparecida, as perspectivas de continuidade de Miccoli no Benfica, a injúria de um professor ao primeiro-ministro, ou todos os fait-divers afins...
Só num país assim o governo suscita ainda aprovação; mas o único futuro de um país assim é o da mera passagem do tempo!
Etiquetas: Política
2 Comments:
Pois é! o que mais me perturba é saber da semelhança deste processo com o de outros países. Diz-me uma amiga brasileira, ex-professora no Brasil, que, quando começou a leccionar, os professores eram mais ou menos bem pagos. Congelamento atrás de congelamento, recusa de aumento atrás de recusa... resultaram na degradação que obrigou muitos profes a emigrarem e muitos outros a terem que se desunhar em condições extremamente difíceis.
Quem diz professores diz os outros trabalhadores. E o mais curioso (salvo seja) é que, dizem-nos, a economia cresce. Mas... e daí? cresce para quem?
Inspirando-me em palavras recentes desse grande vulto da política portuguesa, Pedro Santana Lopes, parece-me que o ministro da propaganda actual seja o Joseph Goebbels.
Abraço
MF
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