terça-feira, setembro 04, 2007

Setembro

O facto de eu ser professor inviabiliza que possa gozar férias em períodos de época baixa, turisticamente mais baratos e demograficamente menos agitados e confusos. Agosto é, portanto, a folga que o calendário me concede, acompanhando o cultural ritmo crono-sociológico em que a Economia dá tréguas e se torna compatível com o prazenteiro ócio que é cúmplice dos estivais calores. A pressão produtiva, irreprimível força que de nós se apropria e nos coage ao desempenho de mecânicos pontos na vasta engrenagem social que nos sorve e arrebata, só durante um mês abre mão da violência com que exaure as humanas existências durante o resto do ano. Assim, para uma imensa maioria, Agosto significa a liberdade provisoriamente devolvida após um longo cativeiro!
Mas os meses têm a orgânica dos corpos: fenecem depois de esgotado o aprazado ciclo de vida, nos seus casos de quatro semanas de coexistência; cada um volta doze meses depois mantendo o nome, mas numa roupagem sempre diferente, parecida mas nunca igual... Mais sorte teriam se conscientes criaturas habitassem planetas mais exteriores desta galáxia, onde os dias são mais longos e onde o conceito de efémero se contrai em mais afastadas latitudes.
Assim, ido o Agosto, desde ancestral calendário se insinua Setembro, mês de recomeços, de reinícios de programa. Porque a escola é o comum espaço onde todos pousamos, Setembro anuncia-se como um Janeiro antes do tempo: um novo ano se inaugura, novos projectos se engendram e concretizam, revigorados pelo sazonal descanso que dá alento e estímulo. Curioso paralelismo este, em que Setembro, sendo o nono mês, dá a luz a novidade de outra humana etapa e a motivação para sorrisos que se haviam afadigado no anual percurso. O Zodíaco partilha similares afeições por Setembro, dedicando-lhe a «virgem» como signo do imaculado porvir, pois a vida (re)começa em Setembro!
Não é por contingente acaso que este debutante mês serve de ícone ao mais arrebatado romantismo, como é exemplo - que os da minha geração (e mais anosos) bem conhecem - o verso inicial de uma canção cujas declamadas palavras se tornaram afamadas pela colocada voz de Victor Espadinha:
Foi em Setembro que te conheci.
Trazias nos olhos a luz de Maio,
nas mãos o calor de Agosto
e um sorriso,
um sorriso tão grande que não cabia no tempo!
Janeiro é tão somente a aparição de um ano começado em Setembro. E como custa acomodarmo-nos às exigências de cada nova etapa e deixar para trás o torpor das horas sem relógio e dos eternos instantes das férias. O agridoce Setembro não permite as inércias do tédio. Mãos à obra!

6 Comments:

Blogger O Micróbio II said...

Esqueceste-te de focar as outras épocas altas das férias dos profs... Páscoa, Carnaval, Natal.

1:54 da tarde  
Blogger O Micróbio II said...

António, tem sido um martírio vir aqui ao Sem Quorum... e não penses que é pela "corrovisidade" das tuas palavras relativamente a certas temáticas! Cada vez que abro o Sem Quorum sou bombardeado com a abertura de janelas publicitárias, apesar do bloqueio a "pop-ups" que tenho instalado no PC. Nunca pensei que o Sem Quorum adoptasse vias capitalistas de promover certos produtos de grandes multinacionais... :-) Vê lá se consegues dar cabo das janelas... um abraço

9:43 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Caríssimo Micróbio: não sabes do que falas quando te referes às férias docentes, mas é apenas mais um preconceito de um bom católico!
Agradeço o alerta qt às janelas publicitárias que se abrem no blogue, mas que eu não sei como vieram cá parar nem sei como solucionar este parasitismo capitalista...
Abraço,
ALM

3:31 da tarde  
Blogger O Micróbio II said...

É natural que penses que não sei do que falo... aliás este é o argumento típico dos professores,... mas, infelizmente, na minha família há muitos elementos que profissionalmente exercem essa profissão... logo sei do que falo com conhecimento de causa. Com preconceito ou sem ele, até agora ainda nenhum professor (bom ou mau católico, ou bom ou mau ateu) conseguiu demonstrar o contrário.

3:55 da tarde  
Blogger iFrancisca said...

Interessante nunca tinha pensado nisso por esse ponto de vista!

6:01 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

1.
Caro Micróbio: este último comentário teu não me merece resposta, pois só reconfirma o meu comentário anterior. Ainda bem que há alguém que acha que a profissão docente não devia existir, ou que os alunos deviam ter aulas 365 dias por ano em anos não bissextos. Lendo o que escreveste está td dito...
Abraço,
ALM

2.
Obrigado, Francisca, pela visita e pelo comentário. Não sabia que tinha uma conterrânea como leitora deste blogue (sou de Leça da Palmeira).
Cumprimentos,
ALM

11:36 da tarde  

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