quinta-feira, janeiro 10, 2008

Mentir tanto é impostura

A razão de ser da democracia é a soberania da vontade popular, o que implica necessariamente o conjunto dos cidadãos e a sua participação incontornável, mormente em matérias de relevante interesse nacional e que constam do prometido em campanha eleitoral (pois isso determina a orientação do sentido de voto individual e o resultado das eleições).
Ora, se houve um referendo sobre a IVG, defendido pelo Partido Socratista - matéria que, convenhamos, diz respeito à consciência individual e não vincula nem obriga quem quer que seja -, é incompreensível vislumbrar que seriedade e coerência políticas há em não querer agora um referendo ao Tratado de Lisboa, cujas implicações práticas afectam e influenciam a vida de todos os cidadãos europeus.
E se o conteúdo desse Tratado é ininteligível e a sua ratificação tão inadiável e irrevogável, só se pode concluir que a classe dirigente em exercício só tem poder de persuasão para prometer (=mentir) e não cumprir e tem em pouca conta a inteligência e capacidade de discernimento dos eleitores, o que é contraditório com a situação de ter vencido em eleições. Portanto, ou os políticos actuais são hipócritas ou aproveitariam esta óptima oportunidade para esclarecer as pessoas sobre as virtudes de um documento que terá inexoravelmente um impacto concreto nas suas vidas.
Contudo, já estamos habituados e, de tanto enganar o povo, Sócrates deixa de poder ser considerado apenas como mentiroso ou aldrabão, sendo mais um caso de impostura. E ainda argumenta desavergonhadamente a favor da ratificação parlamentar invocando uma "ética de responsabilidade", quando o caso é que cedeu cobardemente em toda a linha - a tal "corda ao pescoço com que foi ao Parlamento", no dizer de Francisco Louçã - às pressões de Cavaco e outros preponderantes e influentes chefes de Estado e de Governo.
Mais uma vez, a máxima de acção socrática: forte com os fracos, fraco com os fortes!
Sócrates é que devia ser imediatamente referendado, mas quando me ocorre que a alternativa é o edil de Gaia... Ai Portugal!

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3 Comments:

Blogger joshua said...

António, o teu blogue é indiscutivelmente, e desde o princípio, um dos meus favoritos e, em muitos aspectos, um dos melhores de Portugal, pelo que tenho visto por aí, desde que te descobri algures por meados de 2007 ou fui descoberto, não sei bem nem interessa.

Visito-te silencioso todas as vezes que refrescas com postas novas o teu sítio e nem pelo facto de me pareceres bastante anacrónico e furibundo quando te LoboMauizas contra a Igreja Católica, jacobinando muito, nem isso me afasta de ti, porque é interessante compreender a génese dos teus argumentos, sentir por dentro o tom excêntrico de postulados dogmáticos à tua maneira e como, sem se darem conta, os Laicos também evangelizam, doutrinham muito, proselitando aflitos no sentido da cabal laicização de tudo, que será um Céu depois.

Fica-se mais rico depois de ver o florescer de uma estrutura de pensamento ainda que aberrante à minha sensibilidade. De resto, são uns acessos que se te acometem e cada um tem direito aos seus acessos. Conheces bem os meus.

Por isso mesmo, tendo em conta isto que de sincero te reitero, resolvi acrescentar à secção do meu PALAVROSSAVRVS REX, 'Em Relevo', um 'Em Relevo, mas no Limbo' e aqui quero que ponhas de parte qualquer vertente pejorativa neste 'mas no Limbo'.

Na verdade, é um conceito que não quero que se desambigue, que, portanto, seja lido na sua completude, no que tem de extremamente elogioso e no que tem, e tem pouco, quase nada, de depreciativo.

Há muito que sentia que te devia esta homenagem no meu blogue que mereces pela tua valia intelectual, pelo teu raciocínio claro e linear, pela tua coerência férra de argumentos, pela pertinência das denúncias do tempo político nacional.

Também acho que mereces muito mais visitas, incomparavelmente mais, que as que obténs e, se não for para mais, ao menos que se saiba que o PALAVROSSAVRVS REX aprecia e sublinha o grande valor do Sem Quórum.

Esperando que coloques para trás das costas os meus excessos de linguagem, as minhas impropriedades estilísticas de raiva reactiva a quente pela tua sanha anti-padreca, o meu roçar contigo/contra ti do semi-insulto, coisas passadas (somos do Norte e o calão é como uma respiração e respirar nunca gera remorso, mas enfim...) deixo-te um Abraço, como nos nossos melhores tempos iniciais, desejando que tenhas tido um Feliz Natal (já que se te foi imposto celebrá-lo!), umas óptimas Entradas (detesto estas vulgaridades, mas neste caso é sincero!) e que a saúde te seja tão natural agora como Matosinhos um dia sem a Refinaria.

Fica com Deus e que, sinceramente, Jesus te abençoe. Sinceramente!

PALAVROSSAVRVS REX

3:48 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro Joshua:
quer pelo imprevisto do teu comentário, quer pelo tom laudatório com que te diriges a mim e a este blogue, o mínimo que posso fazer é agradecer-te os encómios e o destaque que dás ao Sem Quórum no teu Palavrossavrvs Rex (mesmo que remetido para o limbo). Não estava à espera disso nem pensava que as minhas ideias te afectavam tanto...
Respeito a tua apreciação dos meus posts e o facto de veres tudo nos limites de uma qualquer dogmática e doutrinação (é próprio da crença que tolhe a razão e a torna reclusa do teu e outros evangelhos). Mas sobre isso já falámos o suficiente.
Se eu relevasse a quantidade de leitores do SQ, há muito que este estaria extinto. Mas eu escrevo por catarse intelectual e é por isso que o fim inevitável do SQ tem sido adiado. Escrevo enquanto conseguir esgueirar-me nos intervalos da rotina e tiver ideias e não obrigatoriamente leitores, a sério! Afinal, sempre sou «sem quórum»...
Obrigado pela homenagem que não mereço e pelo destaque que me atribuis no teu PR. Apesar dos impropérios que em tempos trocámos, fica a saber que nunca quis recusar a possibilidade de te chamar «amigo» e de te considerar, a ponto de manter as minhas incursões - mudas, é certo - à tua prosa sáurica.
Um Próspero 2008 também para ti e para os que inspiram os teus dias. Desculpa, mas não quero ficar com Deus (seja isso o que for) e prefiro que o recomendes a todas as crianças que sofrem e que provam que o problema do mal O refuta. Quanto ao nazareno, e apesar de o evangelho ter morrido na cruz (F. Nietzsche), não sabia que tinhas autorização para distribuires bençãos - não vá a hierarquia celibatária excomungar-te :)
Obrigado pelas tuas palavras, a que, humilde e sinceramente, não estou em condições de retribuir, dado o anonimato deste sítio!
Cordialmente e envolto pela comoção da amizade,
ALM

11:17 da tarde  
Blogger morffina said...

Sim à Europa, não ao Sócrates.

10:50 da manhã  

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