O sal doce de Cavaco

No rol de curiosidades deste discurso presidencial de Ano Novo figura também a alusão aos salários obscenamente elevados auferidos por dirigentes de empresas. E, de facto, tratou-se de uma mera alusão, pois Cavaco é tão anódino e amorfo que não constata categoricamente as evidências, mas apenas se «interroga» (curioso termo!) se tais rendimentos "não serão, muitas vezes, injustificados e desproporcionados, face aos salários médios dos trabalhadores". Para quem, num passado não muito remoto, assegurava não ter dúvidas...
Oh Sr. Presidente, porventura saberá Vossa Excelência se, para este ano civil, o salário mínimo não chega a 90 contos? Acaso passou a fase da «interrogação» e saberá se já estamos em 2008? Ou se, em tanto gestor e director - públicos e privados -, não haverá cavaquistas e seus ex-colaboradores políticos? Ou se Boliqueime fica no concelho de Loulé?
É a desacreditada táctica de «dar uma no cravo e outra na ferradura», para tudo ficar pior ou na mesma e assim desresponsabilizar a classe política que o inquilino de Belém encabeça, como se constata ainda na sua menção laudatória aos progressos no controlo das contas públicas (?) em ténue e lacónica contraposição com o desemprego, "que atingiu níveis preocupantes e são muitas as famílias que enfrentam sérias dificuldades para fazer face às suas despesas de todos os dias". Não será isto limitar-se a dizer o óbvio, a ser evasivo - não houve qualquer alusão ou crítica às causas fundamentais do desemprego - e a desempenhar com cinzentismo (como antes Jorge Sampaio) o seu papel presidencial?
Em 2010 estará Cavaco com novo discurso televisivo de igual conteúdo, embora em retórica roupagem formal diferente, a papaguear as mesmas inócuas reservas e apreensões, os mesmos elogios, esperanças e confiança... Se isto é que é saber ser um supervisor do regular funcionamento das instituições, então é legítimo crer que o café e o leite se vão poder adoçar com sal!
Etiquetas: Política
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