Parra americana
Neste concurso festivaleiro em que invariavelmente se convertem as primárias norte-americanas, se eu fosse eleitor em terras do tio Sam, o meu voto ia para John Edwards, o candidato democrata que ousou apresentar uma pertinente agenda progressista e que, talvez por isso, não logrou continuar na corrida presidencial. Por isso, não se esperem mudanças substanciais na política federal e externa dos EUA até 2013.
Com efeito, quer Obama quer Clinton protagonizam uma retórica que seduz e apela às minorias étnicas, às feministas, aos ambientalistas, aos desapossados e aos envergonhados pela imagem medíocre que o bushismo deu do país. Porém, nem um nem outro defendem, por exemplo, a implementação de um sistema de saúde público (que, pelo contrário, continua a ser baseado em seguros privados), embora seja expectável que, uma vez eleitos, o possam tornar um pouco mais abrangente; nem um nem outro vêem a crise actual do subprime como uma consequência directa da desregulação financeira, transparecendo ambos excessivas reservas na adopção de uma estratégia económica de superação da crise e de aperfeiçoamento de um sistema fiscal injusto e socialmente penalizador; ninguém os ouviu pronunciarem-se objectivamente acerca da energia nuclear como solução ou não dos problemas energéticos, ou acerca de prazos definidos para a retirada das tropas estadunidenses do Iraque...
Sabendo nós da importância que representam os milionários financiamentos privados das campanhas presidenciais, a ideologia não deixará de estar subordinada aos interesses capitalistas das multinacionais patrocinadoras e é isso que os discursos ambíguos e redondos - até dos democratas - têm inequivocamente subjacente. Como diz a sabedoria da plebe, é «muita parra e pouca uva».
Claro que o pior destes candidatos democratas será sempre melhor que qualquer um dos neocons republicanos, chame-se McCain ou não. Pelo menos, Obama e Clinton poderão contribuir activamente para tornar os EUA um país menos racista, menos machista e eventualmente menos homófobo e chauvinista. Contudo, o que o mundo precisa não é de um novo sucessor de Lincoln, mas de um novo polícia do mundo!
Etiquetas: Política
1 Comments:
Pois!... e nós a apanhar por tabela...
Abraço.
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