sexta-feira, abril 18, 2008

Triste vitória de Pirro

Inesperada e surpreendentemente, a Plataforma Sindical de professores comprometeu - se calhar de forma irremediável - o capital de credibilidade, de esperança e de reconhecimento público da justiça das suas reivindicações conseguido a 8 de Março com a histórica manifestação em Lisboa. A assinatura, ontem, deste indecoroso acordo (entendimento, moratória, ou outros eufemismos com que o queiram designar) com a tutela representa, efectivamente, uma cobarde capitulação e uma tácita cedência às propostas ministeriais sobre matéria fulcral da vida nas escolas. Curiosamente, os presidentes dos Conselhos Executivos dos agrupamentos de escolas de Coimbra fizeram mais no pós-manifestação pela dignidade da profissão docente, do que Mário Nogueira e os seus camaradas sindicalistas - a fraqueza destes é uma traição e uma desautorização da coragem e integridade deontológicas daqueles.
As posições dos sindicatos, na pessoa de Mário Nogueira, têm ziguezagueado ao sabor das circunstâncias e, infelizmente, não souberam estar à altura da responsabilidade que lhes cabia. Creio mesmo que mentem aos professores, ao anunciarem que em 86% das escolas os professores reunidos na última terça-feira foram favoráveis ao acordo, quando a lista de escolas cujos professores a ele se opuseram excede a centena... Não é fácil sentir na pele o sentimento de César apunhalado por Brutus!
Como aceitar que, mesmo a título experimental (numa espécie de avaliação a brincar), os docentes sejam avaliados por itens como as classificações que atribuem aos alunos e sejam responsabilizados pelo abandono escolar (quando as causas deste são bem conhecidas e extrínsecas à escola e bem mais imputáveis ao Governo)? Como admitir que um docente seja avaliado por um colega menos habilitado e/ou de uma diferente àrea disciplinar? Como anuir à instrumentalização dos professores contratados, que agora se vêem desamparados e confrontados com a descabida exigência de frequentarem acções de formação creditadas inexistentes e nunca antes ordenadas a docentes que não sejam do quadro (até porque não progridem de escalão)? Então agora, subitamente, já é admissível a divisão da carreira em professores titulares e não titulares? E dissipa-se a contestação quer ao ignóbil modelo de gestão escolar que o governo pretende implementar, quer ao estúpido Estatuto do Aluno já em vigor?
Não, os professores não têm uma Ordem nem Sindicatos que os defendam, de facto. Mas o mais irónico é ser esta apregoada vitória uma vitória de Pirro - de parabéns parece estar a astúcia de Lurdes Rodrigues, que dando a imagem de ceder, conseguiu com um passo atrás dar brevemente três em frente. E irónico também é ter este acordo sido assinado a uma semana... do 25 de Abril!

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