segunda-feira, abril 07, 2008

O tacho do costume

Jorge Coelho foi nomeado para a presidência da construtora Mota-Engil, juntando-se na administração a outro ex-ministro, Valente de Oliveira, e a um ex-secretário de Estado, Luis Parreirão. Não sejamos ingénuos: não é o exercício de cargos de governação que, como por geração espontânea, habilita ou dá competência para a gestão e a administração em lugares de cúpula de lucrativas empresas. E este é o enésimo caso que indicia o conluio dos partidos de poder (PS, PSD e PP) com o sector privado, concomitante com a destruição do serviço e da administração públicos, aliás já denunciado pelo socialista João Cravinho - entretanto afastado para Londres e igualmente bafejado por um salário principesco num banco para ex-políticos - ao referir que "é inaceitável que quem concedeu o exercício de monopólios para a construção e exploração de obras públicas tenha depois cargos de direcção na execução desses mesmos monopólios" - é o que se passa com Jorge Coelho, que, enquanto ministro das Obras Públicas, concedeu à Mota-Engil os maiores negócios das SCUT. Uma situação análoga à de Joaquim Ferreira do Amaral em relação à Lusoponte, entre muitos outros exemplos que se acumulam há décadas.
Não admira, portanto, que as injustas assimetrias sociais aumentem e batam recordes em Portugal, um país onde facilmente se recrutam bufos, um país da «cunha» e do nepotismo tacitamente institucionalizados no relacionamento entre cidadãos. Festejar o 25 de Abril converteu-se numa rotina politicamente correcta mas sem correspondente substância cívica nem efectivação concreta, tantos são os exemplos de perda de qualidade da participação democrática que vão proliferando...
Concedo que os políticos que tiveram responsabilidades governativas não podem ser discriminados negativamente no acesso a cargos administrativos e de gestão de empresas no sector privado. Mas «à mulher de César não basta ser honesta» e o ambiente de suspeição é recorrente, quase uma lusa fatalidade, obstando à moralização da vida pública e à confiança na classe política. Mormente num país com uma deficiente, pouco credível e morosíssima Justiça, e em que o Estado parece servir de abono, confundindo-se os limites entre servir o Estado e servir-se do Estado.
O progresso do país faz-se da confiança nos cidadãos e nas instituições, e isso não rima com «tacho»!

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2 Comments:

Blogger Ai meu Deus said...

P..a que os pariu!

11:40 da tarde  
Blogger morffina said...

Toda a gente eSCUTa e ninguém faz nada.

Abraço
MF

7:31 da tarde  

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