quinta-feira, junho 12, 2008

Greves traídas

Durante os últimos quatro dias, a greve dos camionistas foi um acontecimento que merece ser objecto de um sério estudo sociológico, designadamente pelo facto insólito de ter posto empregados a defender viril e ilegalmente patrões. Ou seja, foi uma greve de empresários de transportes de mercadorias contra a vontade da sua associação representativa (a ANTRAM) e que envolveu activa e maioritariamente os camionistas, cuja intervenção em terra e fora das cabines dos tractores pesados foi decisiva. No fim, e fazendo lembrar a traição da Plataforma Sindical de Professores ao empenhamento dos docentes na manifestação em Lisboa, os assalariados do volante sentiram-se traídos pelas negociações que só beneficiam, quando muito, os seus patrões - afinal, foram carne para canhão e testas de ferro de interesses que acabaram por não ser os seus, após noites mal dormidas e um atropelamento mortal de um dos seus que fazia parte de um dos célebres piquetes de grevistas. Em Portugal, começam a ser comuns as greves traídas...
Para o cidadão anónimo, há, pelo menos, dois relevantes aspectos a reter desta ocorrência: primeiro, percebeu-se a importância dos transportes terrestres de mercadorias na dinâmica económica que sustenta a sociedade de consumo (são como os glóbulos vermelhos no sistema circulatório); alguns escassos dias de paralisação e a ausência de víveres nas prateleiras, de matérias-primas para a indústria e o sector da construção, ou de combustíveis nos postos de abastecimento, põem em causa a cadeia de dependências que o automatismo da rotina esconde. Por outro lado, provou-se a impotência da autoridade do Estado, em particular das forças policiais, em dissuadir e punir comportamentos ilegais flagrantes e mediatizados: de estradas e acessos bloqueados ostensivamente, de coacção grave sobre condutores (impondo por recurso à violência a greve a não aderentes), de veículos apedrejados, de atentados contra a segurança rodoviária, entre outras ocorrências nada dignas de um Estado de direito.
Felizmente para o desnorte social vivido, para o alheamento político do governo, para os aumentos sucessivos dos combustíveis e demais desastres que nos oprimem, que há o Euro 2008 e uma prestação positiva da nossa selecção: não fosse ir para o Chelsea e seria caso para dizer «Scolari ao poder»!

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2 Comments:

Blogger Liliana Matos said...

Por momentos Portugal pareceu-me(ou ainda me parece) a Cuba da Europa :s

Obrigada pelos comentários

Bjs

Até sempre

3:39 da tarde  
Blogger Ai meu Deus said...

viva, pois, a vossa selecção!

12:39 da manhã  

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