segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Dificuldades de neófito e livro de estilo

No que eu me meti... No início, há cerca de um mês, não imaginava a dificuldade por que tenho passado em fornecer conteúdo a este blog, mesmo que modesto nos seus interesses e objectivos. Como sou um amador nestas lides, e longe de mim ter a pretensão de opinion maker, verifico agora que a minha disponibilidade temporal para materializar em textos as opiniões que vou formando é inversamente proporcional à vontade de o fazer; e só o apelo de uma irreprimível atitude crítica me impele, mesmo que a espaços, a fixar em enunciados aquilo que gravita e circula no meu pensamento. Lamento não ter o privilégio de fazer negócio do ócio...
Claro que é muito cedo para fazer um balanço, mas há alguns dados e aspectos a que não consigo furtar-me de partilhar com os que têm a paciência de ler-me. E sendo apenas mais um dos que recentemente se vieram juntar a esta constelação de blogs em imparável crescimento, regozijo-me por haver algum eco dos escassos posts que elaborei, a julgar pelos comentários de leitores que conheço e outros cuja identidade desconheço, como também
através de reacções espontâneas que me chegam via mail, telemóvel ou presencialmente (no trabalho ou em grupo de amigos e família). É a existência desta ressonância que justifica e motiva este post.
i) Tudo começou por este ser um espaço simultaneamente gratuito (a crise em Portugal vai sendo paga pelos do costume!), acessível a todos (que não sejam analfabetos funcionais!) e democrático (mais do que muitos exemplos que a prática diária nos revela!), potenciador do exercício da liberdade de expressão e de opinião, seja qual for o quadrante ideológico-filosófico a que se pertença. Porém, nunca utilizarei este espaço como instrumento de conquista de influência e/ou arregimentação de sensibilidades e ideossincrasias, ou como arma de arremesso sedenta de vingança contra adversários do quotidiano existencial. Nada disso...
ii) Não quero transpor muralhas ou redutos, mas tão somente polemizar e suscitar a mobilização da controvérsia mediante a melhor argumentação que puder e souber produzir. Convido ao debate que alimenta a discussão que procura a plausível verdade e repudia a disputa obcecada por estratagemas de vitória baseadas em sofismas.
iii) Face aos tais ecos que me têm chegado, esclareço que não sou correia de transmissão de nenhuma corrente, grupo, movimento, partido, ideia, doutrina, instituição ou ortodoxia, e isso creio ser um dos sentidos patentes no nome que dei a este blog. Obviamente que não oblitero influências (ninguém honesto o fará), mas procuro ser autónomo nas reflexões e convicções que elaboro e no modo como retoricamente exponho o que penso e defendo, assumindo que posso incorrer em contradição, ambiguidade ou incongruência, considerações estas que dependem, necessariamente, das interpretações que me derem e a que estou sujeito.
iv) Admito igualmente que o processo de decisão que conduz à adopção de uma opinião resulta, pelo menos no meu caso, não apenas da análise racional e lógica de prós e contras, de custos e benefícios, como também de mecanismos emocionais (mas não necessariamente afectivos) a que a configuração neurobiológica de que sou feito impede de eximir-me. Não sou, por conseguinte, adepto do dualismo antropológico que separa corpo e mente.
v) Finalmente, e se, chegado aqui, ainda tenho alguém que me esteja a ler, assevero que procurarei sempre reduzir o ruído do que disser, embora tenhamos que aceitar a inevitável ambiguidade que está no âmago da linguagem natural (não escrevo recorrendo à univocidade de fórmulas matemáticas, símbolos químicos ou pautas musicais!). Daí que a ambiguidade em que possa incorrer seja involuntária; a não ser que, como recurso estilístico deliberado, procure comunicar um pensamento ou ideia que transcenda a simples literalidade (é isso que faz a metáfora e a ironia).
Funcionarão estes parâmetros como o meu livro de estilo e mostruário das minhas manifestas fraquezas, ou limitações, e presumíveis ou eventuais virtudes. E dando seguimento e conclusão ao primeiro parágrafo: agora que já iniciei este compromisso comigo mesmo, espero dar-lhe continuidade, apelando a quem me ler para que me comunique as suas visões convergentes e divergentes, os seus pontos de vista concordantes e discordantes. Não serei tão profícuo e proficiente como outros companheiros de argumentação, pois relembro que dei de caras com as dificuldades de ser um neófito blogger amador, acrescidas por não ser figura pública ou ter o prestígio e a notoriedade intelectuais que facilitam a fixação de auditório... Mas afinal, apenas pretendo ser consequente com a epígrafe deste blog e com o nome de baptismo que aceita e sugere a solidão gerada pelo inconformismo heterodoxo, contra a ambição da vaidade exibicionista ou procura de oportunidade clientelar.
Não mo pediram, mas com a vossa licença eu apresentei-me!

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