Celebrar o planeta futebol
E eis que hoje tem início mais um Campeonato do Mundo de futebol, uma das mais importantes competições do calendário desportivo internacional. A cobertura mediática exponencia o número de adeptos deste fenómeno social que é, inequivocamente, uma incontornável forma de manifestação cultural da modernidade, até pelo amplo e socialmente complexo envolvimento afectivo que caracteriza o investimento emocional individual de milhões de pessoas.
Como uma religião, o futebol instaura práticas gregárias e dinâmicas rituais e cultuais materializadas no clube ou na selecção; potencia grandes assistências e aglomerados ímpares; inspira cânticos e coreografias num uníssono coral de claques; e cimenta uma identidade social (cidade, região/província, país) que valida uma versão iconográfica e idiossincrática específica e localizada espacialmente. Por outro lado, a transversalidade sociológica desta modalidade é abrangente e inclusiva, exemplarmente democrática, na medida em que é partilhada por todos interclassistamente, é independente de estatutos sociais e pretexto de amnésia segregacionista.
Dentro do rectângulo de jogo, o futebol simboliza, de certo modo, os diferentes contextos da vida social: os jogadores e as equipas reproduzem modelos de divisão do trabalho, de tarefas e papéis, bem como de interacção recíproca, mediados por um corpo de juízes dotado de poder sancionatório e que zela pelo cumprimento de leis, regras e prescrições. E, todavia, isso não impede que haja uma diversidade de estilos de jogar e perspectivas de enquadrar e avaliar o desempenho dos actores-jogadores, que são os guerreiros a quem impende a obrigação de permitir a satisfação do triunfo e a busca lograda do prazer. À felicidade de uns corresponde necessariamente a infelicidade de outros; além disso, não há campeões sem sorte, factor aleatório e casuístico que a qualidade e o mérito não dispensam. Em suma, em 90 minutos condensam-se os dramas e as alegrias intrínsecos à configuração da vida em sociedade, com a alternância dos seus altos e baixos traduzidos num cortejo de vitórias e derrotas; o sorteio contingente da sorte e do azar e a oposição nós - eles que se decide através da moderação arbitral que incorpora a legitimação do resultado e representa a justiça que pode ser bem ou mal aplicada, por vezes favorável e outras vezes desfavorável.
Desta vez com epicentro na Alemanha, o mundo vai novamente transbordar de adrenalina, pois a bola vai começar a rolar!
Etiquetas: Sociedade
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