quarta-feira, maio 31, 2006

A sinistra gente do "mistério" da educação

É já um facto indesmentível que o grupo do engenheiro Sócrates escolheu a classe dos professores como um dos alvos preferenciais e prioritários de acção governativa, delegando na titular da pasta da Educação uma persistente incumbência de mostrar obra feita e anunciar propagandisticamente medidas avulso e a conta-gotas que, por um lado, nada de substancial resolvem no putrefacto sistema de ensino nacional, a não ser agravarem as mazelas de que este padece; e, por outro lado, vão cerceando direitos adquiridos da classe docente, tidos agora como absurdos privilégios. E este contexto é tanto mais irónico quanto se sabe que os professores constituiram - lamentavelmente - uma forte base de apoio eleitoral que consagrou a maioria absoluta do PS em 2005; não fizeram - lamentavelmente - greve aos exames nacionais há um ano; cumprem na escola, sem pestanejar e com zelo de escravo, as tarefas mais ridículas sem as contestar, ou fazendo-o somente com débeis e inócuos murmúrios sussurrados entredentes em psicanalítica catarse grupal nas salas de professores...
Em contrapartida às crescentes exigências da função professoral, assiste-se ao simultâneo desprestígio e desincentivo de um desempenho docente de qualidade, traduzido, por exemplo, no congelamento da progressão na carreira; na deslocalização de milhares de professores confrontados com a não abertura de vagas (que viola a lei e só por critérios economicistas não são disponibilizadas) e agora obrigados à itinerância e ao exílio nómada por um período mais dilatado de três e, futuramente, quatro anos; na burocratização galopante de tarefas e procedimentos atinentes à avaliação e a cargos/funções extracurriculares; na desvalorização do tempo de trabalho para a preparação das actividades lectivas (consumidas em patéticas e antipedagógicas "horas de substituição"); no excessivo número de alunos, de turmas e/ou de níveis de tantos professores; na produção incessante de legislação permissiva que impõe artificialmente o sucesso escolar; na violência escolar que recrudesce e está a jusante da conflitualidade social; etc. etc. etc..
Neste temporal de desinvestimento na educação, paga o justo pelo pecador e, se maus professores há, os que são competentes acabam por se ver indiferenciadamente envolvidos nesta teia de persecutória desconfiança, responsabilização e desautorização, neutralizando e anulando dessa forma o voluntarismo, empenho e dedicação que ainda possam restar em alguns. Não é assim que se penalizam ou punem os professores incompetentes e irresponsáveis que parasitam o sistema (à semelhança de tantos outros nas demais profissões e incluindo os muitos políticos oportunistas que contaminam e comprometem com a sua presença e ignorante arrogância o progresso, desenvolvimento e bem-estar do país), sacrificando o conjunto indiscriminadamente. O desrespeito que a sinistra Lurdes e os sequazes capatazes Lemos e Pedreira evidenciam no ódio que vão destilando sobre os professores, radica também na atitude submissa e subserviente da classe docente face aos poderes que a (des)regulam, classe essa cuja massificação a tornou genericamente amorfa, anódina, descaracterizada, acéfala e com laivos de incultura preocupantes.
Decorre desta conjuntura que medidas como a mais recente, que intromete os encarregados de educação na avaliação dos professores, não são já de estranhar e vêm na sequência de outras que atentam contra a dignidade da profissão docente. Com efeito, esta última (mas não derradeira) proposta é deontologicamente perversa, socialmente ilegítima e pedagogicamente contraproducente, só suportada talvez por obscuros interesses e pela estupidez e desonestidade intelectual dos pedabobos "cientistas da educação" (?), dos eduardos sás e danieis sampaios que infectam com as suas cómicas receitas sapienciais irrealistas, impertinentes e de puro academismo teórico e retórico, os meios de comunicação que lhes dão cobertura e os corredores da 5 de Outubro.
Vamos então pôr os pais a avaliar os profes e, por que não, que isso sirva de inspiração aos colegas Costa da sinistra Lurdes para pôr réus a avaliar o desempenho de juízes ou solicitar a autuados que avaliem os guardas que os brindaram com coimas! Assim vai Portugal, umas vezes menos bem e quase sempre mal...

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6 Comments:

Blogger O Micróbio II said...

Neste aspecto estou completamente de acordo contigo, mas somente em relação ao factor "pais"... porque a avaliação é de facto necessária não só na função pública como em todos as empresas privadas. Na minha área profissional (Certificação da Qualidade) a "avaliação de desempenho" é um dos processos primordiais de um ciclo de melhoria contínua... e tudo o que estiver relacionado com a qualidade é óptimo!

6:14 da tarde  
Blogger O Micróbio II said...

Só mais um comentário e apenas porque achei curiosa esta tua citação... "E este contexto é tanto mais irónico quanto se sabe que os professores constituiram - lamentavelmente - uma forte base de apoio eleitoral que consagrou a maioria absoluta do PS em 2005"... e digo curiosa porque a última sondagem até mostrava um PS com uma maioria absoluta mais folgada que a que tiveram!

6:16 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O ataque deliberado e concertado aos profes do ens. básico e sec. tem sido (e vai continuar a ser) o pé-de-meia do governo. Pelo que se tem visto, na sociedade portuguesa, quase toda a gente tem contas para saldar com os docentes. Dou de barato que no ensino tanto como em qualquer profissão, existem profissionais e profissionais. Certo. Considero que é urgente avaliar os professores, os polícias, os juízes, qualquer profissional, seja qual for a área. Mas, tenham lá paciência, com estes critérios: insucesso e abandono escolar; com estes intervenientes, são tantos que já lhe perdi a conta e, nos tantos, também os pais? Em função de quê? para amaioria, em função das classificações atribuídas; para uns tantos em função da relação interpessoal e para alguns devido aos excessivos níveis de exigência. Convenhamos que isto é uma barafunda calculada. Mais valia, de uma vez por todas, dizerem claramente: ninguém descola do 1º escalão, ou lá o que isso é!
Sintomático, ou talvez não, é o estado de graça dos profes do e. sup. Com esses, ninguém tem questões mal reslvidas. será?
JCê

11:54 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Com estas avaliações vamos, de facto, trabalhar mais. Então com objectivos, ainda melhor. Vai ser só positivas. Vais ver. Para cada grelha brilhante uma menção de "Employee of the Month" na sala de professores.
Parabéns Miguel! Mais um brilhante post sobre os nossos (infelizmente tenho que dizê-lo) inimigos.

11:01 da manhã  
Blogger Ai meu Deus said...

vamos a eles. vamos aos objectivos. educar mais ou menos (mais mais que mais menos) como quem fabrica tijolos. 8 tijolos por minuto! x alunos por aula!

E bibó belho!

Abraço, amigo M.! E (renovados) parabéns (pela lucidez, pela escrita, por tudo! Até por tb não gostares dessa gentalha)

10:55 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Não me preocupa a avaliação dos pais, até porque esta é uma bandeira para deixar cair no momento das negociações e, de caminho, parecer magnânimo diante dessa corja de malfeitores que pululam pelas nossas escolas e diante da opinião pública. É a velha táctica do merceeiro que compra por cinquenta, vende por cem e mais tarde salda por sessenta. Não está a perder quarenta mas a ganhar dez. Cuidado com as aparências. Raramente o que parece é. Concentremo-nos no mais importante.

3:34 da tarde  

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