No país do fascínio pirómano
Portugal, país de gente desleixada e pirómana, já arde há algumas semanas. A onda de calor dos últimos dias antecipou o Verão e, invariavelmente, converteu-se em feroz inimiga do ócio dos bombeiros. À mais pequena subida de temperatura, lá ressurgem os incêndios numa cadência de suspeita e estratégica aparição, que as imagens televisivas divulgam como churrasco imenso da fauna e flora e infernal pasto ígneo.
É surpreendente como ainda há árvores para arder e como ainda há governos a proceder a reestruturações, reformulações e revoluções nos serviços de bombeiros, sapadores e protecção civil, para no final tudo ficar na mesma; mormente este ano, em que a GNR ganhou a valência de combate ao fogo. Pode ser que para o ano os governantes pateticamente se lembrem dos cantoneiros da limpeza... Os sucessivos governos, à custa de meterem tanta água, não entram também em combustão.
Talvez seja isso fruto da imunidade parlamentar e impunidade política, bem como do gosto português por queimadas a destempo, piqueniques sem higiene ou tradicionais foguetórios que abrilhantam as festividades populares de católica reverência, do São João à Nossa Senhora do Amparo, das Dores ou das Diarreias...
Cada vez mais, o sentido que faz ter bombeiros em Portugal equivale ao sentido que faz terem os esquimós... frigoríficos!
Etiquetas: Sociedade
3 Comments:
Com todas estas picardias, acabas por levantar o saudosismo dos tempos de Salazar... quando a floresta em Portugal era bem mais viçosa e que nem mesmo as "festas populares de católica reverência" eram capaz de promover "diarreias" de incêndios... os poucos incêndios daquelas alturas só mesmo os que inadvertidamente eram espalhados pelos comboios...
Perspicaz... Como sempre!
O problema dos fogos é um flagelo nacional. E para continuar...
Soluções?
Primeiro, terá que se regulamentar de forma a ninguém poder ganhar com os fogos. Nem madeireiros, nem proprietários, nem comandantes de Bombeiros, nem empresas de aviação, nem ninguém.
Segundo, o ordenamento do território. O abandono e o desleixo têm de ser vigorosamente combatidos com multas pesadas.
Os pequenos proprietários que me desculpem... mas, ou se juntam em cooperativas/associações de produção florestal ou terão de perder as suas "terrinhas".
A construção de moradias um pouco por todo o lado sem qualquer planeamento é um escândalo! Todos querem uma vivenda no meio da floresta, longe dos seus concidadãos, mas quando vem o fogo esperam a ajuda de todos. A hipócrisia de sempre.
Terceiro, prevenção com a limpeza da floresta compulsiva, construção de acessos, asseiros e um sistema de vigilância eficaz para se poder agir rapidamente.
Quatro, fiscalização a sério! Criminal e ao desleixo. É inacreditável o número de ignições(acendimentos) por temporada. Criminosos, negligentes, doentes mentais. Para estes uma solução poderá ser a de impedir-se o Show mediático em redor do fogo.
Tudo junto é a fornalha anual.
Um abraço
Pedro Vitória
Infelizmente tenho que concordar, de certa maneira, com o nosso cavalheiro e amigo micróbio. Parece que há povos que só conseguem ser cívicos e "civilizados" com uma mão de ferro. Por vezes parece que é preciso agir de uma forma criminosa sofisticada para controlar os chico espertos criminosos.
Evocou-se aqui a figura de Salazar no "Dia da Besta". Parece-me apropriado (até pelas imagens dantescas que nós estamos a assistir).
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