segunda-feira, junho 05, 2006

No país do fascínio pirómano

Portugal, país de gente desleixada e pirómana, já arde há algumas semanas. A onda de calor dos últimos dias antecipou o Verão e, invariavelmente, converteu-se em feroz inimiga do ócio dos bombeiros. À mais pequena subida de temperatura, lá ressurgem os incêndios numa cadência de suspeita e estratégica aparição, que as imagens televisivas divulgam como churrasco imenso da fauna e flora e infernal pasto ígneo.
É surpreendente como ainda há árvores para arder e como ainda há governos a proceder a reestruturações, reformulações e revoluções nos serviços de bombeiros, sapadores e protecção civil, para no final tudo ficar na mesma; mormente este ano, em que a GNR ganhou a valência de combate ao fogo. Pode ser que para o ano os governantes pateticamente se lembrem dos cantoneiros da limpeza... Os sucessivos governos, à custa de meterem tanta água, não entram também em combustão.
Talvez seja isso fruto da imunidade parlamentar e impunidade política, bem como do gosto português por queimadas a destempo, piqueniques sem higiene ou tradicionais foguetórios que abrilhantam as festividades populares de católica reverência, do São João à Nossa Senhora do Amparo, das Dores ou das Diarreias...
Cada vez mais, o sentido que faz ter bombeiros em Portugal equivale ao sentido que faz terem os esquimós... frigoríficos!

Etiquetas:

3 Comments:

Blogger O Micróbio II said...

Com todas estas picardias, acabas por levantar o saudosismo dos tempos de Salazar... quando a floresta em Portugal era bem mais viçosa e que nem mesmo as "festas populares de católica reverência" eram capaz de promover "diarreias" de incêndios... os poucos incêndios daquelas alturas só mesmo os que inadvertidamente eram espalhados pelos comboios...

9:29 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Perspicaz... Como sempre!

O problema dos fogos é um flagelo nacional. E para continuar...

Soluções?
Primeiro, terá que se regulamentar de forma a ninguém poder ganhar com os fogos. Nem madeireiros, nem proprietários, nem comandantes de Bombeiros, nem empresas de aviação, nem ninguém.

Segundo, o ordenamento do território. O abandono e o desleixo têm de ser vigorosamente combatidos com multas pesadas.
Os pequenos proprietários que me desculpem... mas, ou se juntam em cooperativas/associações de produção florestal ou terão de perder as suas "terrinhas".
A construção de moradias um pouco por todo o lado sem qualquer planeamento é um escândalo! Todos querem uma vivenda no meio da floresta, longe dos seus concidadãos, mas quando vem o fogo esperam a ajuda de todos. A hipócrisia de sempre.

Terceiro, prevenção com a limpeza da floresta compulsiva, construção de acessos, asseiros e um sistema de vigilância eficaz para se poder agir rapidamente.

Quatro, fiscalização a sério! Criminal e ao desleixo. É inacreditável o número de ignições(acendimentos) por temporada. Criminosos, negligentes, doentes mentais. Para estes uma solução poderá ser a de impedir-se o Show mediático em redor do fogo.
Tudo junto é a fornalha anual.

Um abraço
Pedro Vitória

9:31 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Infelizmente tenho que concordar, de certa maneira, com o nosso cavalheiro e amigo micróbio. Parece que há povos que só conseguem ser cívicos e "civilizados" com uma mão de ferro. Por vezes parece que é preciso agir de uma forma criminosa sofisticada para controlar os chico espertos criminosos.
Evocou-se aqui a figura de Salazar no "Dia da Besta". Parece-me apropriado (até pelas imagens dantescas que nós estamos a assistir).

5:14 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home