Os sensacionalistas erros de paralaxe jornalísticos

Porém, o desfecho das mesmas implicou o recurso a armas de fogo por parte de militares da GNR, para neutralizar as fugas perigosas encetadas por jovens marginais que, com os seus actos criminosos, puseram em risco a segurança e a integridade física e patrimonial de pessoas e bens nos locais por onde violaram ostensiva e sucessivamente elementares regras do Código da Estrada e desobedeceram às ordens de paragem dos policiais perseguidores. Como resultado, quatro jovens foram baleados, tendo um morrido de imediato e três estão, ao que consta, em estado crítico.
Claro que é preciso apurar responsabilidades e que se faça um completo esclarecimento das trágicas ocorrências. Mas o modo como a comunicação social fez a cobertura noticiosa, sobretudo a imprensa e a televisão (com directos à porta de tribunais e entrevistas a familiares e amigos dos fora-da-lei), é parcial e indutor de juízos de valor que sugerem uma análise emocional dos factos: até parece que os militares da GNR são assassinos que tiram injustificadamente a vida a gente inocente!
Se, durante as fugas, os fugitivos provocassem uma desgraça e não fossem detidos, então as forças policiais seriam mais uma vez alvo de críticas pela ineficiência e impotência em matéria de garantia da segurança dos cidadãos. Preso por ter cão e preso por não ter, temo que incidentes deste género incutam nos guardas e polícias (já de si desmotivados pelos baixos salários, más condições de trabalho e, diga-se a verdade, impreparação de muitos deles para usarem armas e agirem convenientemente em situações delicadas e sob stresse) uma progressiva atitude de desleixo e indiferença - a que por vezes já se assiste! -, que faz perigar a preservação do Estado de direito e o respeito pela autoridade e pelo seu exercício. E não é preciso ter paranóias securitárias para recear o crescimento do sentimento de insegurança...
Tal cobertura jornalística insere-se no que designo de "estratégia TVI", assente num sensacionalista erro de paralaxe que consiste em tornar a sóbria difusão de efectivas notícias em filmes de acção sanguinolentos ou fait divers sem qualquer pertinência. Pena que haja acéfalos incautos e distraídos que são afectados e deixem de discernir entre o essencial e o acessório, aderindo à piedade pelos fora-da-lei que nutrem a faca e o alguidar do decadente jornalismo que pulula na demanda de audiências. Afinal, que direito têm os agentes da autoridade em andarem armados e a perseguir desobedientes condutores de carros roubados, sem seguro nem inspecção, e na posse de haxixe? Direito não têm nenhum - têm o dever!
Etiquetas: Sociedade
2 Comments:
Cuidado! Os deveres podem traumatizar "os meninos"!
Parece que só existe autoridade num determinado sector muito reduzido da nossa sociedade.
Mais vale deixá-los "fugir"! (como diz o outro)... "Esses, depois de prestarem contas" ... não os delinquentes, em circunstância nenhuma (na opinião de pessoas razoáveis).
Existe rigor e zelo a mais onde não deve existir e onde deve ...
Abraço
MF
Concordo com o post. Que ânimo terá um agente de autoridade sabendo que se agir e disparar contra um suspeito, quem passa a ser tratado como suspeito e eventual criminoso é ele próprio?!
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