terça-feira, dezembro 26, 2006

Diz que é a "matriz cristã"...

Acabou mais uma quadra festiva alusiva ao Natal, época de inspiração sagrada e prática profana, pois a fé é mitigada em exuberância consumista - o 'menino jesus' deu o seu lugar de pueril benfeitor ao vetusto Pai Natal. O Natal serve, aliás, para fazer actualizar ainda mais as abissais assimetrias sociais entre ricos e pobres, ou, em mais ampla latitude, entre o hemisfério norte da abundância e o hemisfério sul da fome e da miséria. Para o ano repetem-se os gestos e os votos...
Enquanto isso, o Natal vai sendo sinónimo de prendas, compras, luzes, cânticos, néons, férias, gula, e vai minguando o número daqueles que ainda o vão associando a um garoto que nasceu em Belém da Judeia.
O Natal lembra também o modo como a religião, em geral, e o Cristianismo em particular, invadiram os domínios pessoais e interpessoais da vida, mesmo que de ateia convicção. Outro exemplo disso: discutiu-se, há um par de anos, a plausibilidade em incluir ou não uma referência preambular, no projecto de Constituição da União Europeia, à "matriz cristã" presente em dois mil anos de cultura ocidental. Por mim, louvo a racional sensatez e razoabilidade em impedir uma tal alusão, pois o Cristianismo fundou-se numa série de promessas inócuas e de esperanças vãs, nenhuma das quais concretizada (como não podia deixar de ser!): Jesus não voltou (coitado!); a iminência da chegada simultânea do 'fim do mundo' e do 'reino dos Céus' por ele anunciados, afinal, não se verificou; Israel não triunfou sobre os romanos (e vai para 6o anos de repetida e aflita vizinhança com palestinos); o mundo não está hoje melhor do que no século I (o paroxismo militar e bélico é contemporâneo) e pior ficou no século XXI sob a liderança de um cowboy texano, cristão e criacionista; e os homens não são, no nosso tempo, psicologicamente muito diferentes nos seus traços motivacionais, em relação aos seus antepassados.
E ainda queriam vincar num texto constitucional europeu, a rica herança de uma "matriz cristã", em nome da qual se escreveram páginas negras da história do velho continente... Longe parece estar o tempo em que o Homem aprenderá com os erros do passado!

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1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Enquanto se discute heranças o presente continua e o futuro fica em stand-by.
Para quando uma Europa unida e funcional?

Abraço
MF

2:56 da tarde  

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