quarta-feira, maio 30, 2007

Do proletariado ao precariado

O paradigma laboral do século XXI justifica que o conceito de «proletariado» esteja a ser rapidamente substituído pela designação emergente de «precariado», consolidado numa dupla tendência de downsizing (há nas empresas cada vez menos efectivos) e outsourcing (há cada vez mais contratualização de serviços externos disponibilizados por empresas de trabalho temporário). Engrossam assim as fileiras de contratados a prazo, de falsos recibos verdes, de subempregados e de temporários; e, segundo dados fornecidos pelo INE, entre Janeiro e Março de 2006 e Janeiro e Março de 2007, houve um decréscimo de 75 mil trabalhadores efectivos e, inversamente, um aumento de 10,6% (63 mil pessoas) de contratados a termo.
Portanto, a inequívoca objectividade dos números indica que o contingente dos trabalhadores precários está em alta, ao ponto de 20% da população actualmente empregada se ver inibida de exercer o elementar direito constitucional de fazer greve, coagida pela lógica predatória da maximização do lucro e devorada pela obsessão capitalista que diviniza o binómio produtividade-competitividade. A sensibilidade e a preocupação sociais parecem ser agora ideais de gente irrealista e destituída de pragmatismo...
Mas as características do novo mundo laboral introduziram ainda uma aviltante desigualdade que se acentua e desmente os neoliberais que se escudam na falácia da modernização tecnológica que justifica a dispensa de mão-de-obra humana: aos cada vez mais que estão desempregados, contrapõem-se os cada vez menos que têm mais trabalho acrescido, tornando contraproducente fazer greve, ter uma gravidez de risco, necessitar de uma intervenção cirúrgica ou, inclusivé, fazer férias, num movimento de aniquilação de direitos básicos fundamentais que tanto custou a adquirir. Quem diria que, de direito inalienável, o trabalho se iria converter num bem precioso ou num privilégio invejável!
Como desmentir que se está a diluir, material e conceptualmente, a fronteira entre trabalho e... escravidão?

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2 Comments:

Blogger Ai meu Deus said...

pois é... a diluição é mesmo conceptual e material. E material: essa é que é a desgraça maior.

Abraço.

12:12 da manhã  
Blogger morffina said...

Eu trabalho! Yupi!!!!

2:58 da tarde  

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