terça-feira, junho 05, 2007

Crónica de uma greve fracassada

Uma greve é um instrumento de luta que se deve utilizar apenas como último recurso, quando toda a negociação se esgotou e as condições da sua realização sejam favoráveis. Porém, o autismo e o capricho irrealista do Comité Central do PCP impôs à CGTP uma greve geral, no passado dia 30, sem auscultar convenientemente as forças vivas do mundo laboral e sindical (providenciando e instaurando previamente as necessárias dinâmicas de adesão e a indispensável propedêutica de consciencialização nos trabalhadores da pertinência, necessidade e oportunidade da greve), mormente se a greve é «geral».
Mera chicana de satisfação de estratégias partidárias que ignorou a realidade, o fracasso desta greve geral era tão previsível quanto precipitada e, para tal desaire, não basta invocar as soezes coacções do governo e/ou do patronato, ou o alheamento da UGT. A convocação de greves e manifestações deve ser sempre vertical e ascendente: da base (os trabalhadores) para o topo (organizações sindicais e partidárias), caso contrário não é sustentável e, como aconteceu, pode até ser contraproducente, abrindo feridas que demoram a cicatrizar e que comprometem o impacto positivo e o sucesso reivindicativo de anteriores greves e manifestações.
Com efeito, o mais grave no insucesso da greve geral do dia 30 é que, para além de ter debilitado ainda mais o poder e a credibilidade do movimento sindical, proporcionou ao governo e ao patronato um pretexto inoportuno para a continuação do espezinhamento, desprezo e aniquilação dos direitos laborais - que com tantos sacrifícios custaram a conquistar! -, materializada em medidas políticas e práticas empresariais socialmente insensíveis e crueis e que limitam preocupantemente a margem de manobra reivindicativa dos trabalhadores. Era bom que Jerónimo de Sousa e seus pares comunistas tomassem a responsável consciência de que os revolucionários do século XX padecem de anacronismo; e os do século XXI, para não correrem o risco de serem inócuos aventureiros que pregam no deserto, não devem ter os pés a descoberto e fora das novas realidades capitalistas que envolvem o mundo laboral.
Cada vez mais, mais CGTP passa por menos PCP!

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2 Comments:

Blogger O Micróbio II said...

"Cada vez mais, mais CGTP passa por menos PCP!"... sou tão ingénuo! E eu a julgar que a CGTP era completamente independente das lides partidárias acreditando sobejamente nos discursos que, quer de um lado quer do outro, vincavam essa suposta independência...

9:51 da manhã  
Blogger morffina said...

Que tristeza!

Um tiro no pé!

O PCP não sabe nadar, yo!

Abraço

10:00 da manhã  

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