quinta-feira, junho 07, 2007

A nova «guerra fria»

O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, ameaçou ontem voltar a apontar mísseis para alvos na Europa, no caso de os Estados Unidos concretizarem o seu plano de instalação de dez mísseis interceptores na Polónia e um radar de detecção na República Checa. Aliás, alguns países de leste (antigos membros do extinto Pacto de Varsóvia) que recentemente aderiram à União Europeia - designadamente a Polónia, a Hungria e a República Checa - têm sido pródigos em arranjar problemas à implementação de uma política externa consistente da UE, dado o alinhamento por sua conta e risco com os norte-americanos: os traumas herdados das décadas de subordinação ao jugo soviético parecem estar a sublimar-se...
Assim se ressuscita um clima de «guerra fria» que o mundo sob influência hegemónica unipolar afinal não extinguiu. Mas agora é pior, pois a Europa converte-se no epicentro do fogo cruzado entre EUA e Rússia e, o que é ainda mais grave, com o silêncio, imobilismo e impotência dos governantes europeus. Como é possível que Bruxelas não imponha a polacos e checos a ameaça de expulsão da UE, se persistirem em funcionar como teimoso íman de ameaça militar externa?
Por outro lado, é no mínimo suspeito que os EUA proponham a colocação de mísseis na Polónia e não, por exemplo, na Grécia ou na Itália, o que seria mais enquadrável numa lógica estratégica de suposta defesa europeia perante a ameaça de mísseis vindos do Irão ou da Coreia do Norte. Em rigor, os EUA querem é revitalizar o mercado de armamento (de que são os maiores produtores e exportadores mundiais) que tanto lucro lhes dá; após tantas negociações para diminuir o arsenal nuclear, e não havendo actualmente uma ameaça concreta que justifique esta paranóia bélica, Bush persiste na deriva beligerante. O Tratado de Redução de Armas Convencionais, celebrado em 1990, estava até em fase de ratificação numa versão mais recente...
Com efeito, a instalação do sistema anti-míssil americano não visa defender a Europa, mas eventualmente o território norte-americano e impor à Europa a continuidade da aliança atlântica e da «pax americana» sobre o mundo, com os resultados nefastos que temos conhecido. A Europa é há muito um pobre peão no xadrez malévolo e concentracionista do imperialismo do Tio Sam, arrastado como território refém das políticas iníquas e ignóbeis do falso "amigo americano", cuja deslealdade agora se comprova ao fazer do velho continente o novo escudo de defesa dos interesses do país de Bush. Nunca se pensou que os juros a pagar pelo Plano Marshall fossem vitalícios, de tão onerosos que são! Neste triste cenário, a ONU continua moribunda, irreversivelmente desde Março de 2003, ferida de morte pela prepotência unilateral dos EUA no Iraque e falindo na defesa efectiva do direito internacional.
Depois do mundo bipolar da «guerra fria» e do período unipolar que lhe sucedeu, assistimos hoje à tentativa de edificação de um mundo multipolar: para além dos EUA e da Rússia (que renasce «putinizada» das cinzas), vemos aparecerem potências regionais como a China, a Índia, o Brasil e o Irão... É isto que Washington parece também temer. E, da sua parte, a Rússia aproveita a conjuntura para demarcar o seu território de influência e reafirmar-se como potência militar e económica: os EUA vivem uma fase recessiva em termos de credibilidade mundial e de capacidade de influência, ganhando Putin pontos face a uma administração Bush desnorteada e enterrada nos atoleiros iraquiano e israelo-palestino (impossível reunir figuras tão patéticas na Casa Branca!).
Entretanto, o imperialismo americano vê o domínio do mundo como um direito seu e não permite que nenhuma outra nação o desafie. Enquanto houver vontade hegemónica de poder, não haverá lucidez para perceber que com terrorismo não se acaba o terrorismo; e, sobretudo, que não é com guerra que se faz a paz!

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1 Comments:

Blogger morffina said...

Estes novatos da UE parecem sedentos de vingança pela subjugação soviética ...
Esta malta começa a irritar. Já são vários exemplos de que só estão na UE para receber dinheiro e cuspir na cara a quem o deu.
Para não falar das atrocidades em termos de direitos humanos que estão a tentar implantar, especialmente na Polónia. É deste tipo de Europa que os ianques gostam. A nova europa de Rumsfeld para uma nova guerra fria.

10:37 da tarde  

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