O futuro adiado da Palestina
São vários e diversos os factores que estão na origem do insolúvel conflito israelo-palestino e o tornam inevitável. Ao longo de décadas, as sucessivas direcções políticas israelitas, palestinas e norte-americanas têm jogado com as casuísticas possibilidades do momento, num terreno minado por crises e tensões graves e onde não há inocentes. A agravar esta teia complexa estão os países vizinhos: um Líbano instável e repleto de grupos e milícias pró e anti-sírias, um Iraque desmembrado e mergulhado na caótica divisão entre sunitas, xiitas e curdos, e um Irão com potencial nuclear.
A divisão no seio dos palestinos tem atingido, por estes dias, o paroxismo, deixando-os próximos de uma guerra civil fruto da violência inaudita em curso entre combatentes da Fatah, do presidente Mahmoud Abbas, e do Hamas, do primeiro-ministro Ismail Haniyeh. A Fatah é apoiada pela Mossad israelita e pelos EUA, que lhe fornecem armamento e aconselhamento militar, ao mesmo tempo que encetam canais diplomáticos com a Síria e fornecem apoio militar ao Líbano para combater a insurreição dos radicais sunitas nos campos de refugiados (que permita simultaneamente isolar o Hezbollah xiita e enfraquecer o Irão). Por seu turno, o Hamas tem o apoio logístico, financeiro e militar da Síria e do Irão, interessados em consolidar a sua hegemonia na região e destruir Israel. Ou seja, Fatah e Hamas são os instrumentos que têm sido usados como catalisadores ideológicos dos interesses estratégicos estrangeiros em contenda.
Internamente, a implosão formal da Autoridade Palestina, na base dos confrontos na Faixa de Gaza, decorre do boicote internacional ao governo do Hamas que insiste em recusar reconhecer o Estado de Israel. Mas não só, pois o caos que aí se vive radica igualmente num sistema adverso de coisas que funciona como rastilho: estranhamente, é Israel que colecta os impostos dos palestinos, os quais correspondem a dois terços do orçamento da Autoridade Palestina, e não os devolve desde que o Hamas ganhou as eleições, ficando os funcionários públicos de Gaza e Cisjordânia sem vencimentos, bem como as forças de segurança, o que leva a que não haja qualquer autoridade nas ruas de um território com mais de 3500 pessoas por quilómetro quadrado e onde abundam armas. Isto, não obstante o governo palestino de Haniyeh ter sido eleito democraticamente (um dos poucos no mundo árabe), o que não impediu também a prisão de deputados, dando a entender aos milhões de jovens palestinos que a democracia não é para ser levada a sério e os eleitos são inúteis. Pior ainda quando aos activistas do Hamas que não estão presos falta em experiência política o que sobra de pressões dos radicais.
No meio de toda esta confusão, são os EUA e Israel que esfregam as mãos de contentes e saem a ganhar: continuam a dividir para reinar na região e dão a entender ao mundo que os palestinos não sabem governar.
Etiquetas: Política
1 Comments:
É o país do "In God we Trust" que luta contra o "mal". Sabemos muito bem qual o "bem" que defendem.
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