segunda-feira, junho 18, 2007

Vergonha chamada Portugal

i) Chamava-se Manuela Estanqueiro, tinha 63 anos de idade, trabalhava na Escola E. B. 2, 3 de Cacia, em Aveiro, e tinha 33 anos de serviço como professora. Pediu a aposentação antes de saber que padecia de leucemia: já não conseguia carregar a pasta com as coisas da escola. Em Março de 2006 diagnosticaram-lhe a terrível doença, mas, mesmo assim, a junta médica da Caixa Geral de Aposentações - qual sádico carrasco - considerou-a apta para o exercício da função.
De nada valeu o recurso que interpôs no início deste ano. Estava com atestado médico passado pela DREC, mas teve de voltar a trabalhar de 15 de Janeiro a 14 de Fevereiro para poder voltar a meter atestado médico, sob pena de perda de vencimento. Para esta malograda docente foi uma questão de honra mostrar que dizia a verdade; deu aulas cheia de febre e amparada por um colega que a direcção da escola disponibilizou para a acompanhar; os colegas tinham de lhe dar a sopa na boca...
O Sindicato de Professores da Zona Centro enviou entretanto novos relatórios que davam a Manuela Estanqueiro apenas mais um ou dois anos de vida, no máximo e se a quimioterapia resultasse. Estava internada em Coimbra quando lhe agendaram nova junta médica para 19 de Abril, em Lisboa. Porém, apesar de não ter tido forças para lá ir e, logo, não foi examinada, esta junta médica teve a decência de lhe conceder, finalmente, a aposentação. Conseguiu viver uma semana na condição de reformada - faleceu a seguir...
ii) Chama-se José Salter Cid, faz parte da lista de Fernando Negrão para as intercalares em Lisboa e, com 53 anos de idade e 17 de serviço na PT, é um recém-reformado com uma pensão de 15 mil euros mensais (foi um dos cerca de dois mil funcionários da empresa pública de comunicações aposentados a peso de ouro).
iii) Só um país socialmente injusto, politicamente desonesto e culturalmente corrupto pode admitir semelhantes contrastes, que corroem os fundamentos mais básicos e essenciais da ética e da democracia. Multiplicam-se escandalosamente os exemplos que descredibilizam o país torpe que somos e, mais do que dinheiro ou influência, a Portugal o que falta é vergonha!
Com tantos tiros no pé, o pior perigo para a unidade deste pedaço de Ibéria vem... de dentro de si próprio!

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Tive conhecimento deste caso através do programa , Um certo olhar, da Antena 2. Inês Pedrosa denunciou-o com a indignação e revolta que ele nos provoca. É abjecto. Aqui a comunicação social parece ter ficado um pouco abúlica relativamente a outras indignidades. Também as há de 1ª e de 2ª ou mesmo sem direito a ela. Pobre Lusitânia, para onde te levam...!!!

10:17 da manhã  
Blogger morffina said...

Este comentário foi removido pelo autor.

7:38 da tarde  
Blogger morffina said...

Somos cada vez mais apenas números (negativos) neste país abaixo de zero ...

7:40 da tarde  
Blogger joshua said...

Por isso mesmo é que não pode haver refreio de contestação de este estado de coisas, de esta torpe imposição de sacrifícios que todos nós, os pequenos, temos de arrostar todos os dias.

Houve quem viesse a terreiro, defendendo que a Ministra não teve culpa, que são equívocos naturais e infelizes. Poder-se-ia acreditar em tal postulado caso houvesse no discurso e praxis de esta mulher asserções de natureza isenta no que respeita ao papel e importância dos docentes na vida intelectual e democrática do País. Mas não é isso que se passa. Entende que o ME não é um centro de emprego, esquecendo que o estado continua um Centro de Tachos.

Por isso o que me parece é que não, a Ministra e o Ministério não são defensáveis nesta matéria porque a filosofia que está subjacente ao magistério de esta ministra é o desgaste da classe. Ela descasca, camada a camada, a cebola classe: toda a gente se sente em causa, todos se procuram salvaguardar e a lei da rolha, da mordaça, começa a ser uma questão de prudência e de bom-senso, não vá o diabo tecê-las.

O que se passou com a professora Estanqueiro não merece eufemismos: tratou-se da mais vergonhosa filha-da-putice de que há memória no Portugal recente, um símbolo, um sinal, de que este Poder está-se nas tintas para as pessoas concretas, que lhe merecem, na verdade, apenas escárnio. O escárnio das medidas a doer, o escárnio das mentiras CIP/Alcochete/Ota, o escárnio da caça ao António Balbino Caldeira, o escárnio de impingir Costa a Lisboa, não a pensar em Lisboa, mas, sim, nos tacticismos posicionais e decisórios OTA, o escánio em todos os sentidos, em todas as dimensões da política concreta, hoje um menu negociado por poderosos para benefício exclusivo de poderosos FLEXIGURANÇA a puta que os pariu, se me permites.

Se não permitires, avisa.

Abraço

9:26 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro Joshua: há acima um "comment deleted", mas não fui eu que o eliminei, mas sim o "author" que desconheço quem seja. Aliás, nem sabia que os comentadores podiam apagar os seus próprios comentários...
Quanto ao teu comentário: agradeço-o e não tenho a menor razão para não o permitir; concordo plenamente contigo e, por mais adjectivos que refiras, não há vernáculo, por mais imundo que seja, para qualificar a gente a que fazes alusão!
Abraço,
ALM

10:24 da tarde  

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