sábado, julho 21, 2007

Real censura ou disparate?

Um juiz da «Audiencia Nacional», Juan del Olmo, certamente um fidelíssimo súbdito da causa real, proibiu a venda e ordenou a retirada dos quiosques de todos os exemplares do último número da revista satírica "El Jueves" (em português seria "A 5ª feira") por um presumível delito de injúrias à Coroa espanhola: na capa aparece um cartoon em que os príncipes das Astúrias, Felipe e Leticia, estão nus e em posição sexual explícita e se põe o herdeiro do trono a afirmar que engravidar a esposa é "o mais parecido com trabalhar que fiz na vida". O caricaturista faz alusão a uma recente medida de fomento da natalidade por parte do governo de Zapatero, que prevê a atribuição de 2500€ por cada nascituro.
Nunca, em tantos anos de democracia, se fez semelhante censura em Espanha, país onde o Código Penal (ponto 3 do Artigo 490) condena a prisão quem calunie o rei ou qualquer dos seus ascendentes e descendentes. Porém, estamos perante uma situação de atentado à liberdade de expressão cometido por um sistema judicial conivente e cúmplice com o regime monárquico, pois satirizar não significa necessariamente caluniar e o contexto reprodutivo do casal real visado é associável à intenção política de incremento demográfico.
Sobejam as razões para sustentar a minha forte convicção republicana, mas, se justificações faltassem, este é mais um caso e um exemplo que vêm dar razão a quem é anti-monárquico. Então, se se descobrisse que o príncipe tinha obtido uma licenciatura «à Sócrates», não se poderia parodiá-lo? E se o rei demitisse um professor, uma directora de centro de saúde ou dissesse que a Andaluzia era um deserto, não se poderia expô-lo ao ridículo? Quem pensam os súbditos de bafientas monarquias, mesmo a que teve a graça de Franco, que uma «família real» é: aureoladas criaturas de sangue azul (?), impolutas e assépticas, sem estômago, bílis ou intestinos?
A censura é que me parece um «real» disparate e, já agora, o que pensará José Saramago deste triste episódio no seu país de adopção? Entretanto, o casal parideiro - prometeu chegar, pelo menos, aos cinco rebentos - usufrui da vantagem de não depender do trabalho para sobreviver, pois os espanhóis contribuem para a sua tesouraria; não espanta, portanto, que o cartoon em apreço não tenha inventado nada. Acho só que a posição está exagerada: tão circunspecto homem não deve ensaiar cópulas de tão arrojada postura, mas quem vê coroas, perdão, caras...
Viva a República!

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A revista El Jueves foi sequestrada por "injúrias à Coroa". Franco vive ainda? Queremos uma República espanhola já!

10:54 da manhã  
Blogger morffina said...

Perverso e repugnante são os dinheiros gastos com esta gente.

Viva as Républicas!!!

Abraço
MF

2:43 da manhã  

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