A ilha de Gaza
Na Faixa de Gaza, o tabaco disponível provém de contrabando e é de má qualidade: um maço de 20 cigarros custava em Junho 10 shekels (1,70 €) e agora custa 35 shekels (6,10 €). Isto, numa região paupérrima e sem recursos naturais, em que o habitual é fumar-se mais de um maço diário para combater o tédio e a inércia que o isolamento imposto provoca. Nas ruas de Gaza, as conversas costumavam versar sobre a precária situação política interna, as negociações com Israel ou o custo de vida; mas agora é o preço do tabaco e os locais onde adquiri-lo que dominam as espontâneas tertúlias destes palestinos.
O tabaco é um dos muitos produtos de consumo que começaram a escassear desde meados de Junho, quando o Hamas tomou o controlo de Gaza e Israel retaliou: se o governo israelita já limitava a entrada de muitos produtos naquela martirizada parcela de território, desde essa altura reduziu ao mínimo os bens de primeira necessidade. Os poucos cigarros que chegam vêm do contrabando em Rafah, em áreas menos vigiadas da fronteira sul com o Egipto, ou clandestinamente dissimulados entre a pequena lista de produtos que Israel deixa entrar em Gaza (farinha, arroz, leite, açúcar, sal, frutas e alguns medicamentos). Beber água tornou-se um luxo, nesta «faixa» que mais parece uma ilha, rodeada que está de água por um lado e de armas, arame farpado e muros nos restantes...
Os habitantes de Gaza queixam-se da qualidade dos alimentos que recebem e da inexistência de medicamentos para tratar o cancro ou doenças cardiovasculares. Além disso, muitos trabalhadores qualificados perderam ignobilmente os seus postos de trabalho nos países ricos do Golfo Pérsico, por lhes ser vedada a saída de Gaza. O encerramento da fronteira, imposto por Israel, impediu também que cerca de 7000 estudantes continuassem os estudos nas Universidades dos países vizinhos, principalmente do Egipto e da Jordânia.
Mas a falta de tabaco é um mal menor, se comparada com a falta de cimento, o que tem inviabilizado fortemente a concretização de projectos de construção e de obras públicas, muitos dos quais financiados por outros países.
E é assim que Israel contribui em larga medida para potenciar o terrorismo e o fundamentalismo islamistas; sem Israel, o Hamas não seria o que é actualmente. Triste ironia esta: Gaza parece-se cada vez mais com um gueto de Varsóvia dos anos quarenta - mas as vítimas de ontem aprenderam com os seus carrascos e tornaram-se nos verdugos de hoje!
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