Paz num filme «Gore»
Se o Prémio Nobel da Paz chegou já a ser atribuído a um criminoso como Henry Kissinger (em 1973), não surpreenderia que este ano o atribuissem a Tony Blair ou a George Bush. Calhou a sorte a Al Gore, a meias com o IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, organismo criado no seio da ONU, em 1988, e constituído por funcionários nomeados pelos governos e, logo, comprometidos com os mesmos), o que prova os recorrentes critérios obscuros da academia norueguesa na atribuição do reputado e gordo prémio nesta categoria. Foi preciso vir um norte-americano, ex-vice-presidente, falar sobre o ambiente e a necessidade de encetar esforços para um maior conhecimento das alterações climáticas, para o comité do Nobel ter sensibilidade para o tema - por que razão a Greenpeace não foi ainda laureada?
Com efeito, a actual demanda de Al Gore não vai, seguramente, alterar substancialmente o sentido da evolução civilizacional do Homem, continuando as preocupações ambientais a figurar num plano secundário e subordinado a mais elevados imperativos de ordem económica. Suspeito mesmo que, e a julgar pela quantia milionária que cobra por cada palestra que faz, a mensagem de Gore é mais política do que ecológica: insere-se num negócio (hoje, tudo tem um preço!) cujo objectivo é, por um lado, o enriquecimento pessoal explorando um filão na moda; e, por outro, instaurar uma espécie de «capitalismo ambiental» baseado na produção e venda de tecnologia alicerçada em energias alternativas, enquanto os EUA continuarão a ser os maiores poluidores e consumidores de petróleo. Quioto não é um exemplo inocente...
No entanto, o que, em termos ambientais, ocorre no planeta por intervenção humana, com a destruição acelerada dos ecossistemas e da biodiversidade, não deixa de ser um crescente e irreversível horror e, por conseguinte, o mérito deste Nobel da Paz é lembrar a "verdade inconveniente" de que vivemos num filme, cada vez mais, «gore»!
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