segunda-feira, novembro 12, 2007

Breves notas e diatribes (7)

1. Os cinco maiores bancos a operar em Portugal obtiveram lucros superiores a 2200 milhões de euros só nos primeiros meses deste ano (mais 13% que em período homólogo de 2006): foram cerca de 8 milhões de euros por dia (!), muito à custa das comissões cobradas aos clientes (subiram 11,8%). Com estes resultados, nem são precisos dados estatísticos da OCDE ou do INE para nos surpreendermos com o facto de Portugal ser o país da União Europeia que mais injustamente distribui a riqueza criada e onde mais aumenta o fosso entre os poucos ricos e a multidão de pobres.
Como pode o «engenheiro» Sócrates Pinto de Sousa querer importar modelos económicos - como a «flexigurança» (a última invenção bem sucedida do patronato) -, se o nível de vida português está tão próximo da média europeia como Portugal da Austrália?
A vergonha dos sucessivos (des)governos é inversamente proporcional às obscenidades económico-sociais (bancárias e outras) que as suas políticas promovem; e os números são inequívocos: no país de Camões e Salazar são precisos cada vez mais pobres para fazer um rico!


2. Querer reduzir o debate político à reedição de um estafado duelo na Assembleia da República entre Sócrates e Santana é a evidente e sórdida prova de como, por um lado, o futuro de Portugal continua comprometido e preso a um falso dilema; e, por outro, de como a comunicação social inflama o acessório e superficial e se consome no efémero espoletado pelo canibalismo das audiências. Mas isso já nem espanta, sobretudo se pensarmos que estes políticos de telegenia são produtos formatados por e para câmaras de televisão, ocas figuras fátuas cujos rostos ilusoriamente preenchem o vazio de ideias e de propostas.
Pena que, nestas democracias tecno-mediatizadas, os cinco minutos de fama de uns poucos interfiram tão negativamente com a vida inteira de anónimo sacrifício de quase todos...