quinta-feira, dezembro 06, 2007

Libidinal Natal

O fotógrafo italiano Oliviero Toscani é conhecido internacionalmente como o autor das polémicas campanhas da Benetton; e a sua pouco consensual criatividade não pára: desta vez, Toscani volta a provocar com um slogan para o Natal de Milão impresso em camisetas e outros produtos de merchandising cujas receitas reverterão a favor de obras de caridade. E o que diz tal slogan? Simplesmente, "È Natale? Scopiamo?" ["É Natal? Fodemos?"]
Com efeito, esta ousada campanha pouco católica - e talvez por isso muito mais interessante! - insere-se num contexto civilizacional em que a quadra natalícia está absolutamente repaganizada e supera em atractividade a solenidade taciturna e ritual da sua génese cristã. O Natal começa cada vez mais cedo, pois em meados de Outubro já somos bombardeados por anúncios publicitários que têm o velhote da Lapónia como protagonista. E não são só as crianças que se vêem arrebanhadas nas malhas do fervor consumista, sendo igualmente constatável a crescente aposta na sensualidade e na erotização da publicidade, no sentido de seduzir transversalmente os segmentos de mercado.
Neste capítulo, e depois das marcas de automóveis e de perfumes, são os operadores de telemóveis que assumem a vanguarda: a TMN diz que "o Natal pode ser o que você quiser; com a TMN a magia é sua", complementando esta emancipadora mensagem com efusivas imagens festivas, qual Carnaval antecipado, em que participam atraentes modelos e crianças perfeitas, num paroxismo de beleza e alegria de que os idosos não fazem parte; ou a Optimus, com a subliminar mensagem libidinal em que se diz "este Natal dá o teu melhor, com o melhor de ti, Optimus", acompanhada por um spot com lindas manequins, designadamente a protagonista principal: a pose sensual em lingerie, o azul olhar fatal, as sugestivas bolinhas de sabão; ou o Pai Natal da Vodafone, que ora dorme entre elegantes rapazes dispostos a tudo por um novo celular, ora dança empenhadamente entre belas mulheres, ora se bronzeia no convés de um iate ladeado pelas inevitáveis modelos...
Não se pode ficar indiferente a esta idílica metamorfose dos valores natalícios, em que se quer incutir aos adultos que já não se trata apenas de uma época do ano da exclusiva ou dominante preferência dos petizes ávidos de prendas. Inquestionavelmente, a estratégia estival do costume resulta e o Natal está cada vez mais bonito! "È Natale? Scopiamo?"