Mais uma «independança»

Assim, o cinismo imperialista dos EUA e dos seus cúmplices aliados próximos é já um truísmo mundial, tantos são os ostensivos atropelos ao Direito Internacional. Pior do que isso, e que esta «independança» ilustra, é a instrumentalização americana dos povos para seu benefício: Bush detesta os albaneses (desde logo são muçulmanos e um potencial ninho de fundamentalistas, tal é a pobreza que grassa por aquelas bandas), mas com a independência do Kosovo volta-se a dividir os países da UE e, com isso, agudiza-se o sentimento de inviabilidade de um autêntico projecto europeu, desestabilizando-o - e, suprema ironia, caberá à UE suportar os custos de uma independência de um território sem viabilidade económica. Por outro lado, amputa-se uma fatia de território à Sérvia, que é de cultura religiosa ortodoxa e uma tradicional aliada da Rússia, desse modo contendo-se a influência e ambição russas no leste europeu.
Aos EUA não interessa rigorosamente nada saber que o Kosovo é o berço da nação sérvia e é sérvia desde há muitos séculos, antes de os albaneses para lá começarem a ir e o povoarem e nele se reproduzirem exponencialmente com o próprio beneplácito sérvio. Num ápice, esquece-se ignobilmente a limpeza étnica posterior à entrada das forças da NATO, que motivou o abandono da região por parte de dezenas de milhar de não albaneses.
Por que razão os EUA não acalentam pública e oficialmente a vontade independentista dos bascos, dos corsos, dos tchetchenos ou dos norte-irlandeses, para não referir outros exemplos no mundo? Nesta caixa de Pandora aberta por mãos tão sujas de sangue, só faltava termos agora os açorianos a pedir a independência. Mas, neste caso, Washington estaria do lado de Lisboa - é que, nos Açores, os norte-americanos já lá estão!
Etiquetas: Política
3 Comments:
Poderias ter acrescentado Gibraltar.
Just pawn move in the chess game, my friend ...
Correction: Just another pawn move ...
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