quinta-feira, março 02, 2006

Confiança política ou eufemismo para partidocracia?

Li ontem num jornal que, desde a vigente rósea governação socrática, o Estado já gastou milhões de euros em indemnizações a directores e administradores gerais de empresas públicas que entretanto foram demitidos pelo executivo ao longo do último ano. Motivo: falta de "confiança política", os mesmos são uma herança dos (des)governos anteriores, uma espécie de intrusos que compareceram numa festa sem serem convidados. Vai daí, há que despachá-los a peso de ouro, sob o pretexto de carecerem de "confiança política".
Neste particular, Sócrates segue as pisadas dos seus antecessores...
Sempre que há uma zanga de comadres ou as eleições dão o exercício do poder a outro partido (e mormente tratando-se de maiorias absolutas), já se sabe que magotes de seguidistas do aparelho partidário ganhador são nomeados para cargos públicos bem remunerados, substituindo antecipadamente outros seguidistas de cores dissonantes que são arbitrária e inapelavelmente demitidos (ou convidados à demissão!). Imagino a tristeza destes: não poderem concluir o mandato para que foram nomeados e ainda por cima verem-se na contingência de terem que receber milhares de euros do erário... Que gratuita ingratidão ao seu espírito de missão!
Outro dado curioso é que os recém-nomeados são, em muitos casos, ex-ministros, ex-secretários de Estado, ex-edis, (ex-)deputados, e outros que também se tornam "ex" qualquer coisa para melhor serem recompensados pelos "altos serviços" prestados ao partido. Este é o mérito que muitos deles têm e daí lhes advém a inquestionabilidade do carácter e extremosa competência. Quem põe em causa o elevadíssimo espírito de missão à causa pública de, por exemplo, Armando Vara, Fernando Gomes ou Oliveira Martins? O que seria de Portugal sem eles? Quem estiver politicamente incólume que lhes atire a primeira crítica... [Ooops, calma, não se atropelem; vá lá, intervém um de cada vez!]
Estes comportamentos quase obscenos que consistem em premiar o carreirismo partidário como fundamento e valor preponderante da acção política, tão típico dos sucessivos governos, não deviam ter o silêncio tantas vezes cúmplice dos 'media' e da opinião pública, que às vezes parecem acomodados e até interessados no vai e vem de nomeados e demitidos. Porém, reconheço que para certos altos cargos da administração pública os governantes precisem de "funcionários" que garantam a suficiente e necessária confiança política que permita assegurar o cumprimento das directrizes e orientações (quando por sorte as há!) delineadas pelo Governo. Mas quantas vezes os nomes aventados e até designados estão nos antípodas das qualidades idealizadas para o exercício de tais cargos?... Há demitidos que, pelo menos aparentemente, lá iam gerindo as naus públicas e que, subitamente e sem explicações plausíveis, são impedidos de continuar a fazê-lo, com o pretexto da confiança política, que é o mesmo que dizer: "o meu cartão de militante é mais bonito que o teu".
Perante isto, como se pode falar em controlo eficiente e efectivo do défice das contas públicas e exigir aos cidadãos que se conformem com a subida de impostos, congelamento de progressão nas carreiras e regras apertadas (e estranhas!) de promoção profissional na Função Pública?
Porém, há um aspecto que reconheço igualmente: se eu sei desta perversidade democrática, a generalidade dos portugueses também sabem e, verdade se diga, este Governo e os anteriores não tomaram o poder através de um golpe de Estado...

Etiquetas:

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

De facto, este governo, para além da capacidade extraordinária para fugir às promessas feitas, conseguindo até chegar ao ponto de executar medidas governativas antagónicas ao prometido com uma naturalidade e calma extraordinárias que só uma maioria absoluta pode dar. E o "povo" parece que assiste a tudo isto como se de uma telenovela barata se tratasse, pouco ou nada se manifestando. Bem... Talvez seja isso que queiram... Talvez queiram um Governo repleto de "Jobs for The Boys" quando pede contenção... Que consegue executar, totalmente impune, medidas opostas ao prometido. É isto que querem para Portugal? Mentira, pulhice, negociatas escuras e ainda... Gozarem com a vossa cara? Deve ser... Não tenho culpa. Não votei PS

Abraço =)

7:11 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home