Mentiras fundamentais da «Paixão de Cristo» - 2
Surpreendentemente, o Evangelho de João (o mais antijudeu de todos) não menciona a eucaristia referente à «última ceia», entre Jesus e os discípulos, importante no ritual cristão. É descrito em Mateus 26, Marcos 14 e Lucas 22, bem como é referido por Paulo na Primeira Carta aos Coríntios 10 e 11. As semelhanças entre a carta de Paulo (escrita em meados da década de 50) e os evangelhos (posteriores em cerca de 30 anos) são óbvias, pelo que os evangelistas conheciam os textos epistolares paulinos.
No relato que fazem da eucaristia, a ideia de "comer" carne humana, mesmo que simbolicamente através do pão ou, ainda mais, de beber sangue (e humano!), eram ideias repugnantes para qualquer judeu da época, impossíveis de serem ditas por um judeu, sobretudo um rabi cumpridor dos preceitos de Moisés, como era o caso de Jesus. Para os hebreus, o sangue era um tema tabu e a sua ingestão estava interdita, conforme estabelecem os principais livros da Tora (ver Génesis 9, 4-6; Levítico 17, 10-14; ou Deuteronómio 12, 23).
Assim, para um judeu era impensável beber sangue, ao contrário dos gentios (não-judeus), que estavam familiarizados com religiões em que os sacrifícios sangrentos eram acompanhados de refeições e banhos rituais com base no sangue dos animais mortos - daí o paralelismo com o patético significado do inexplicável sacrifício de Jesus em prol da humanidade. O consumo do corpo do deus - e a identificação do pão com a carne e do vinho com o sangue da divindade - era uma prática difundida no mundo romano, que Paulo conhecia e em que se terá inspirado. Vejam-se, a este propósito, as liturgias em honra de Ísis, Átis ou Mitra, e surpreendam-se!
Ora, Paulo, que não foi apóstolo, acabou por se antagonizar com o judaismo da igreja apostólica primitiva e, oscilando entre o repúdio e a afirmação do orgulho de ser circuncisado, terá sido seduzido por esta leitura simbólica pagã, muito forte e atraente para os gentios convertidos por Paulo. Com isso, Paulo (o verdadeiro fundador do cristianismo) demarcou irreversivelmente os cristãos do judaismo, conforme pretendeu a desmesurada ambição deste ex-perseguidor de cristãos. Também por aqui se vê que Jesus não seria cristão, se fosse vivo, e abominaria a eucaristia!
Etiquetas: Religião
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