Ainda sobre a besta
Um dos méritos da investigação histórica é desvendar com objectividade as causas de eventos cronologicamente mais ou menos distantes, funcionando como o algodão ou o azeite. E, na sequência do post anterior, a Igreja teme a História, como qualquer instituição cujo passado se escreva em ignominiosas letras de sangue, pela barbárie e sofrimento que impôs: basta invocar os factos de que é milenarmente responsável para rebater as dogmáticas teses de uma doutrina romana que se erigiu sobre um falso cristianismo.O caso mais recente de relatos diários que nos chegam acerca das ignóbeis criaturas que povoam a empresa multinacional de ladaínhas sediada no Vaticano, vem da Argentina, onde começou a ser julgado o ex-capelão da polícia de Buenos Aires, Christian von Wernich, acusado de estar directamente envolvido em 7 homicídios e em 41 casos de rapto e tortura (o que nem é muito, se comparado com anteriores atrocidades, algumas já descobertas, cometidas por outros homicidas e pedófilos católicos, a coberto da hierarquia). Este sacerdote papista, fazendo jus à maquiavélica instituição que representa, foi uma das figuras mais importantes da ditadura militar argentina, entre 1976 e 1983, época a que os factos de que é acusado se reportam.
Enquanto as lastimosas mães choram pelos seus filhos na Praça de Maio, os crimes de Wernich, cometidos com a graça do vaticano Deus, lembram, a quem sabe, a cumplicidade da igreja romana com os regimes mais sórdidos que se possam imaginar. Com efeito, João Paulo II nomeou o cardeal italiano Laghi Pio para chefiar a Congregação da Educação Católica (uma igreja dentro da igreja, tal a importância deste dicastério). Ora, Laghi Pio foi precisamento o Núncio Apostólico na Argentina durante a ditadura dos generais fascistas e amigo íntimo de Videla e de Massera. A imprensa mundial costuma citar passagens de um discurso que o núncio Laghi Pio dirigiu na zona de Tucuman, em 1976, às forças militares argentinas especializadas em tortura e execuções sumárias, e que Wernich seguramente ouviu: "Vós, oficiais, bem sabeis qual é a melhor definição de Pátria... É-vos pedido um grande sacrifício! Obedecei, no entanto, às ordens com subordinação e coragem. Mantei a calma nos vossos espíritos... A Igreja acompanha-vos, não apenas com orações mas, também, com actos!"
Graças a Pio, as relações diplomáticas entre o Vaticano e o Estado argentino opressor (bem como o chileno governado por Pinochet) foram excelentes, tendo mais tarde João Paulo II premiado o «trabalho» de Pio com a sua nomeação para o importante cargo de Núncio Apostólico nos EUA, assim demonstrando-lhe a sua confiança. Este italiano ficou conhecido como «o homem dos americanos».
Numa igreja erigida em falsidades bíblicas, em herética doutrina evangélica que desvirtuou a cristandade primitiva e em vontade de poder inscrita em criminosa irresponsabilidade, a mais singela verdade desvela o rosto de uma besta com aparência simpática. Mas, claro, é preciso que a lucidez racional resista à fraqueza espiritual inquinada com o fel do preconceito, da superstição e da tradição.
A igreja católica é a prova viva de que Iavé... não existe!


2 Comments:
É pena não haver um Jeová que castigue estes monstros infernais.
"...empresa multinacional de ladaínhas sediada no Vaticano..." ? Muito, mesmo muito bom!
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