sábado, julho 14, 2007

Ainda sobre a besta

Um dos méritos da investigação histórica é desvendar com objectividade as causas de eventos cronologicamente mais ou menos distantes, funcionando como o algodão ou o azeite. E, na sequência do post anterior, a Igreja teme a História, como qualquer instituição cujo passado se escreva em ignominiosas letras de sangue, pela barbárie e sofrimento que impôs: basta invocar os factos de que é milenarmente responsável para rebater as dogmáticas teses de uma doutrina romana que se erigiu sobre um falso cristianismo.
O caso mais recente de relatos diários que nos chegam acerca das ignóbeis criaturas que povoam a empresa multinacional de ladaínhas sediada no Vaticano, vem da Argentina, onde começou a ser julgado o ex-capelão da polícia de Buenos Aires, Christian von Wernich, acusado de estar directamente envolvido em 7 homicídios e em 41 casos de rapto e tortura (o que nem é muito, se comparado com anteriores atrocidades, algumas já descobertas, cometidas por outros homicidas e pedófilos católicos, a coberto da hierarquia). Este sacerdote papista, fazendo jus à maquiavélica instituição que representa, foi uma das figuras mais importantes da ditadura militar argentina, entre 1976 e 1983, época a que os factos de que é acusado se reportam.
Enquanto as lastimosas mães choram pelos seus filhos na Praça de Maio, os crimes de Wernich, cometidos com a graça do vaticano Deus, lembram, a quem sabe, a cumplicidade da igreja romana com os regimes mais sórdidos que se possam imaginar. Com efeito, João Paulo II nomeou o cardeal italiano Laghi Pio para chefiar a Congregação da Educação Católica (uma igreja dentro da igreja, tal a importância deste dicastério). Ora, Laghi Pio foi precisamento o Núncio Apostólico na Argentina durante a ditadura dos generais fascistas e amigo íntimo de Videla e de Massera. A imprensa mundial costuma citar passagens de um discurso que o núncio Laghi Pio dirigiu na zona de Tucuman, em 1976, às forças militares argentinas especializadas em tortura e execuções sumárias, e que Wernich seguramente ouviu: "Vós, oficiais, bem sabeis qual é a melhor definição de Pátria... É-vos pedido um grande sacrifício! Obedecei, no entanto, às ordens com subordinação e coragem. Mantei a calma nos vossos espíritos... A Igreja acompanha-vos, não apenas com orações mas, também, com actos!"
Graças a Pio, as relações diplomáticas entre o Vaticano e o Estado argentino opressor (bem como o chileno governado por Pinochet) foram excelentes, tendo mais tarde João Paulo II premiado o «trabalho» de Pio com a sua nomeação para o importante cargo de Núncio Apostólico nos EUA, assim demonstrando-lhe a sua confiança. Este italiano ficou conhecido como «o homem dos americanos».
Numa igreja erigida em falsidades bíblicas, em herética doutrina evangélica que desvirtuou a cristandade primitiva e em vontade de poder inscrita em criminosa irresponsabilidade, a mais singela verdade desvela o rosto de uma besta com aparência simpática. Mas, claro, é preciso que a lucidez racional resista à fraqueza espiritual inquinada com o fel do preconceito, da superstição e da tradição.
A igreja católica é a prova viva de que Iavé... não existe!

2 Comments:

Blogger morffina said...

É pena não haver um Jeová que castigue estes monstros infernais.

8:31 da tarde  
Blogger Texuga said...

"...empresa multinacional de ladaínhas sediada no Vaticano..." ? Muito, mesmo muito bom!

8:44 da tarde  

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