Compromisso divorciado

O que o «Compromisso Portugal» procura, com estas aparições episódicas nos média desde 2004, é instalar a instabilidade laboral e social que beneficia e tanto jeito dá a uma parte da classe empresarial, mediante a apresentação de propostas liberais que ferem os mais elementares direitos sociais e do trabalho. A escolha do Estado como alvo explica-se, paradoxalmente, pela deficiente capacidade de iniciativa que essa mesma classe de intimidados empresários revela face ao mercado globalizado e à competitividade internacional que apregoam e dizem defender.
No limite, o que está em causa é o lento desmantelamento neoliberal do Estado Social, em domínios antes tidos como intocáveis, e sustentado em ideias que subvertem princípios basilares do regime democrático: privatização total da educação, da saúde ou da segurança social e o consequente despedimento de milhares de funcionários públicos tidos como portugueses parasitas, inúteis e de segunda... É todo um modelo de sociedade capitalista, pura e dura, que se procura introduzir em conjugação com a desadequada flexigurança (a realidade laboral na Dinamarca está nos antípodas da nossa) e outras recomendações "à OCDE" favoráveis, numa conjuntura em que as fronteiras entre o que é serviço público de acesso universal e o que é produção privada orientada para o lucro são cada vez mais difusas.
Seria bom que estes lobos com pele de cordeiro referissem, por justiça, os muitos sectores de actividade em que o público é melhor que o privado (começando nas instituições de ensino superior). E quererá Carrapatoso privatizar também o ar que respiramos? Nunca um «compromisso» esteve tão divorciado do que deve ser a justiça social na redistribuição da riqueza e o combate às escandalosas assimetrias sociais e, assim, com amigos destes ninguém precisa de inimigos!
Etiquetas: Política
4 Comments:
Tens toda a razão. O Estado está a ser transformado num "revolver" como "balas comprometedoras".
Abraço
MF
até o ar, meu caro! até o ar há-de ser privatizado! (a menos que nós...)
Abraço.
Este comentário foi removido pelo autor.
O que é que o meu amigo não percebeu a respeito da flexi-segurança e dos empresários?
É muito simples, eu explico:
É a flexi para os trabalhadores e a segurança (do estado) para eles, quando as coisas corressem mal.
Parece-me um modelo fácil de aplicar em Portugal.
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