Compromisso divorciado
António Carrapatoso tem sido o rosto permanente do «Compromisso Portugal», que mais não é do que um grupo de pressão que pretende subordinar o poder político ao poder económico e sobrepor o interesse privado ao interesse público. Na verdade, o compromisso destes empresários não é com Portugal, mas sim com a expansão dos seus negócios até às áreas ainda sob tutela directa do Estado, pelo carácter essencial que possuem, como os serviços públicos de educação, de saúde, de justiça ou de segurança social, nas quais os lucros estão garantidos e, simultaneamente, a concorrência é difícil.
O que o «Compromisso Portugal» procura, com estas aparições episódicas nos média desde 2004, é instalar a instabilidade laboral e social que beneficia e tanto jeito dá a uma parte da classe empresarial, mediante a apresentação de propostas liberais que ferem os mais elementares direitos sociais e do trabalho. A escolha do Estado como alvo explica-se, paradoxalmente, pela deficiente capacidade de iniciativa que essa mesma classe de intimidados empresários revela face ao mercado globalizado e à competitividade internacional que apregoam e dizem defender.
No limite, o que está em causa é o lento desmantelamento neoliberal do Estado Social, em domínios antes tidos como intocáveis, e sustentado em ideias que subvertem princípios basilares do regime democrático: privatização total da educação, da saúde ou da segurança social e o consequente despedimento de milhares de funcionários públicos tidos como portugueses parasitas, inúteis e de segunda... É todo um modelo de sociedade capitalista, pura e dura, que se procura introduzir em conjugação com a desadequada flexigurança (a realidade laboral na Dinamarca está nos antípodas da nossa) e outras recomendações "à OCDE" favoráveis, numa conjuntura em que as fronteiras entre o que é serviço público de acesso universal e o que é produção privada orientada para o lucro são cada vez mais difusas.
Seria bom que estes lobos com pele de cordeiro referissem, por justiça, os muitos sectores de actividade em que o público é melhor que o privado (começando nas instituições de ensino superior). E quererá Carrapatoso privatizar também o ar que respiramos? Nunca um «compromisso» esteve tão divorciado do que deve ser a justiça social na redistribuição da riqueza e o combate às escandalosas assimetrias sociais e, assim, com amigos destes ninguém precisa de inimigos!
Etiquetas: Política
4 Comments:
Tens toda a razão. O Estado está a ser transformado num "revolver" como "balas comprometedoras".
Abraço
MF
até o ar, meu caro! até o ar há-de ser privatizado! (a menos que nós...)
Abraço.
Este comentário foi removido pelo autor.
O que é que o meu amigo não percebeu a respeito da flexi-segurança e dos empresários?
É muito simples, eu explico:
É a flexi para os trabalhadores e a segurança (do estado) para eles, quando as coisas corressem mal.
Parece-me um modelo fácil de aplicar em Portugal.
Enviar um comentário
<< Home