sexta-feira, junho 29, 2007

Centro Comercial de Berardo

Veio, viu e venceu. É o homem (ou herói?) do momento em Portugal: ajudou a impedir a concretização da OPA da Sonae sobre a PT e a travar os ímpetos absolutistas de Jardim Gonçalves no BCP; impôs a sua vontade ao governo no caso da sua colecção pessoal de arte; e quer ser o proprietário do Benfica, num recente e comovente assomo de clubismo ancorado em razões tão antigas como a travessia do deserto pelo clube da Luz, mas só agora vislumbradas pelo ilustre endinheirado (suspeito que esta manifestação de afectos esconda mais uma intenção de oportunidade de negócio!). Depois de Barroso e Sócrates, Berardo compõe uma trilogia de "josés" que atestam a menoridade cívica deste país; porém, este prefere o anglófono "Joe", bem à medida de uma incontida (ou genética?) parolice e um indisfarçável tique de imigrante bem sucedido.
Joe Berardo prosperou à custa de ilícitas artimanhas, como a pilhagem de recursos naturais subtraídos na África do Sul, de onde viria a ser expulso, e "exportados" para a sua Madeira natal, aproveitando o mais que pôde uma relação de amizade pessoal que conseguiu granjear junto dos mais altos dirigentes do regime racista do «apartheid», que então vigorava. Ou seja, no caso de Berardo, fazer dinheiro não exigiu esforço intelectual, mérito sapiencial ou sorte na lotaria, mas antes foi efeito da conjugação feliz de astuciosa manha, um contexto sócio-político propício e uma conjuntura de ventos favoráveis.
De facto, o muito tempo de antena que os diversos média concertadamente lhe têm dado, revela as insuficiências intelectuais e as limitações comunicacionais deste quase analfabeto carregado de dinheiro, assim como evidencia que, para ele, tudo é susceptível de constituir alvo de investimento e ser fonte de proventos. Mas a inteligência é tanto conceptual como prática e, neste particular, a Berardo não se pode deixar de reconhecer uma superior aptidão para se fazer rodear das pessoas certas que compensaram as restrições cognitivas da sua personalidade.
Para comprar arte não é preceito incontornável ter bom gosto ou apurada sensibilidade estética; basta ter dinheiro, o que, para este milionário, abunda até para comprar o Centro Cultural de Belém (CCB). Melhor: é o governo português que se comporta como incorrigível otário, pois ainda paga a Berardo para este comprar o CCB! Desconfio mesmo que, tal como demitiu Mega Ferreira (um acólito do governo e intelectual), o madeirense pode ter a ousadia de, se contrariado alguma vez, vir a demitir a ministra da Cultura ou até o próprio governo - vistas as coisas, não seria assim tão nefasto para Alberto João Jardim, para Portugal e para os portugueses em geral... O bolso recheado desta gente serve para cobrir todos os subjectivos desmandos e arbitrariedades.
E como esta história e estas personagens são de lusitana gesta, Joe Berardo há décadas que é Comendador, agraciado pelo generalíssimo Eanes, por aqui se vendo a qualidade, a seriedade e o criterioso rigor com que se distribuem medalhas nesta república que, mesmo das bananas e sem ufanos títulos de realeza, premeia com comendas a ascensão social e o fortalecimento do ego.
Numa lógica crescentemente assumida de prioritária rentabilidade da cultura e dos espaços culturais, decalcada da de Rui Rio com o Rivoli do Porto, não admira que o Centro Cultural de Belém sofra uma «berardização» onomástica e passe a designar-se de «Centro Comercial de Berardo», o que até nem afecta muito, pois continuaria a ser... CCB!

Etiquetas:

2 Comments:

Blogger antonio ganhão said...

A coincidência das iniciais é espantosa, talvez queiram dizer que este país está predestinado a ser como é...

Essa da trilogia dos “josés" que atestam a nossa menoridade cívica, está bem apanhada!

7:05 da tarde  
Blogger morffina said...

CCB ... CCB ... CCB, CCB, CCB ... GLORIOSO!!! CCB, GLORIOSO CCBBBBBB!

12:07 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home