domingo, julho 29, 2007

Desigualdades educativas

Informou o JN, na sua edição de 21 do corrente mês, que 59 colégios privados da região centro receberam do Estado 85 milhões de euros de subsídios públicos. Ou seja, apesar de as instituições de ensino privadas deverem a sua existência à livre e autónoma iniciativa de cidadãos e organizações, acabam muitas por dever a sua efectiva existência aos impostos pagos pelos contribuintes; e ainda se constituem como concorrentes dos estabelecimentos de ensino públicos...
Mas esta injustiça revela-se ainda mais grave por muitas escolas privadas serem socialmente segregadoras e, em abundantes casos, até difusoras de princípios confessionais que ferem a laicidade do Estado, por via do dinheiro público desbaratado em tais infundados e pérfidos financiamentos, como refere a notícia do periódico em apreço.
A destruição em curso da escola pública e a gradual privatização do ensino de qualidade, bem patente quer no encerramento de unidades de ensino quer nas entrelinhas do novo Estatuto da Carreira Docente, inserem-se numa estratégia mais ampla que, disfarçada de meritocrática e cinicamente pretextando a igualdade de oportunidades, agudiza e agrava as desigualdades e assimetrias sociais, não cuidando que todos partam da mesma posição - é que, antes das «oportunidades», devia estar a «igualdade»! Assim se assegura a oligárquica conjuntura em que os estudantes mais carenciados continuam longe de, à partida e à chegada, estarem em pé de igualdade com os colegas oriundos dos estratos sócio-económicos dominantes. Mais ainda num paradigma laboral em que o acesso aos bons e proveitosos empregos do mercado de trabalho se afigura cada vez mais difícil.
No hodierno mundo neoliberal, já nem a teoria de Justiça de John Rawls parece ter garantias de sobrevivência: em democracia prega-se a equidade e a igualdade, mas, afinal, há uns poucos que são mais iguais que os outros muitos! E, concluindo, quantos são os filhos de governantes e outros detentores de cargos públicos que frequentam o ensino público, a começar pelos do suposto engenheiro e ex-aluno da Universidade Independente?

1 Comments:

Blogger morffina said...

Não te preocupes. Os quadros interactivos e os figurantes vão salvar isto tudo.

Abraço
MF

12:35 da manhã  

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