O país descartável
O PS de Sócrates operou uma clara ruptura com o que, como matriz ideológica, é a essência do socialismo, a saber, uma teoria política democrática, republicana, laica, reformista, conciliadora e socialmente participativa. Pelo contrário, o PS é hoje uma pálida sombra do partido fundado há 34 anos em Bad Münstereifel, perfilhando um discurso e uma prática governativos que não congregam nem mobilizam vontades, mas antes faz a apologia da lógica capitalista que, no lugar de pessoas concretas, vislumbra neoliberalmente meros números e índices estatísticos, que governa contra os cidadãos e fomenta a suspeita e a desconfiança delatórias que se erigem numa cidadania passiva e cobarde. Ou seja, o PS incorpora hoje a atitude política infame e a moral abjecta que combateu originalmente e pretextaram a sua fundação.
Sócrates é arrogante, diletante e incompetente, rodeado por sequazes escolhidos a dedo e que instigam a propaganda da resignação conformista: paguem os impostos, denunciem até as vossas mães, desenrasquem-se, estejam quietos, sofram mas confiem, não chateiem... Na esperança do esplendor da amnésia, o governo PS faz a manipulação dos indicadores estatísticos, a gestão conveniente dos adiamentos, força reformas congeminadas na ignorância do conforto exangue dos gabinetes, estabelece a proveitosa contabilidade da crise, impõe-se como vanguarda da solução, governamentaliza a política e a justiça, remete os cidadãos para a ilusão da confiança e o limbo da espera...
Sócrates usa a democracia para fazer a subversão simultânea da democracia como regime e do socialismo como ideologia; e, pondo o roto contra o nu, o privado contra o público, divide para reinar e alargar o oco centrão sem ideias e desprovido de linhas consistentes de orientação política. Sócrates matou o socialismo, mas o pior é que é o país que se vai extinguido numa agonia social que, a espaços, quebra com o ruído das manifestações o silêncio da comiseração conformista. Sócrates reabilitou a solução migratória para milhares de portugueses, empurrando-os para circuitos de emigração, mesmo para os que fazem a escravização laboral, tal é o desespero.
Sócrates é um falso engenheiro, mas não lhe faltou engenho para enganar um povo que, lamentavelmente, lhe deu maioria absoluta; não lhe faltou engenho até para arranjar uma licenciatura. Como Barroso, Sócrates vai servir-se do país, qual objecto descartável, como trampolim para voos mais altos. Mas Portugal não se importa, é o país das vitórias morais e de consolação, enredado no seu masoquismo genético!
2 Comments:
António Louro Miguel, o que tens escrito é do melhor que tenho lido e este texto não é excepção. O certo é que andamos embebidos neste odor a falso e lá vamos tentando postar catarticamente.
O país, esse vai dormente e resinado e creio ser connosco, também cidadãos, que poderá acordar e reagir numa revolução nova feita por capitães-cada-qual ainda mais puros porque não revolucionando por insatisfação carreirista.
Abraço
No way, José!
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