A extinção da classe média

Com efeito, a classe média não configura um estrato social originalmente abastado, mas sim uma categoria de indivíduos cujo estatuto é adquirido a custo, pelo seu trabalho e economizando eventuais poupanças e gerindo parcimoniosamente empréstimos bancários. Para ser bem sucedido a médio e longo prazo, o indivíduo-padrão da classe média tem de proceder a uma responsável engenharia orçamental, evitando a todo o custo adoptar como modelo o novo-riquismo saloio e burgesso a que é comum assisitir-se publicamente em tantas circunstâncias da quotidiana existência desta sociedade escravizada pelo paroxismo consumista.
É bom estar atento a estatísticos indicadores relativos a outros países, os quais podem servir de boas referências e inspirar práticas racionais que contrariem o excessivo e supérfluo endividamento de inúmeras famílias, de que o caso português é infelizmente paradigmático. Por exemplo, Portugal tem hoje mais carros em circulação do que a Espanha ou a Bélgica, países com um PIB bastante superior, mas deve esta proeza automobilística ao enorme endividamento, creditício da sua classe média; e, em flagrante contraste, um trabalhador português ganha, no mínimo, três vezes menos do que um congénere espanhol.
A carga fiscal com que o Estado tributa a classe média e a facilidade muitas vezes absurda de concessão de crédito, mesmo o pequeno, vem agravar a tentação consumista e, assim, está montado o processo que conduz ao crédito mal-parado e à falência de agregados familiares sobretudo oriundos da classe média. Não é de estranhar, portanto, que as instituições bancárias apresentem lucros-recorde ano após ano, num obsceno exercício contabilístico que tem a protecção e o aval dos governos, um após outro.
Como é triste fazer figura de rico sem gastar um tostão...
1 Comments:
Ora aqui te deixo um abraço de solidariedade (de outro elemento da tal classe em vias de extinção).
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